Esta cidade verdejante é o lar de alguns dos maiores tesouros do Afeganistão: é a cidade natal do célebre poeta Rumi, e o local de uma das mesquitas mais lendárias do país. Foi a primeira cidade afegã conectada a outro país por ferrovia.
Entre todas as distinções de Mazar há uma mais duvidosa. Ela também é a capital informal da prostituição no Afeganistão - tanto é que a expressão "ir a Mazar" se tornou comum entre afegãos querendo pagar por sexo.
Em parte, o fenômeno se deve à cultura da cidade, que é consideravelmente mais complacente com o vício do que o restante do país. O álcool, embora ainda ilegal, pode ser encontrado sem muito trabalho. As mulheres, em grande parte confinadas ao lar, podem ser vistas conversando com homens nos parques públicos de Mazar, uma cena rara mesmo em Cabul, a capital.
Mas, tanto quanto em tudo o mais, o crescimento econômico alimentou o comércio sexual em Mazar, afirmam as autoridades locais e membros da ajuda humanitária.
Nos últimos anos, a economia da cidade prosperou, já que a sua proximidade com a Ásia Central e a sua relativa paz e estabilidade transformaram-na em um centro comercial. Edifícios estão surgindo pela cidade, na medida em que empresas locais e regionais se estabelecem.
- Mazar é uma cidade grande e, comparada a outras províncias, muitas prostitutas atuam por aqui - disse Nilofar Sayar, diretora de um grupo de direitos das mulheres em Mazar que oferece cursos profissionalizantes às profissionais do sexo - Existem muitos comércios, o que significa muito dinheiro e clientes.
A prostituição que prospera aqui lança uma luz intensa nas contradições da sociedade afegã dominada por homens, onde mesmo a implicação de imoralidade pode significar a morte para as mulheres. O comércio sexual existe de uma forma ou de outra há décadas, mesmo sob o regime ultraconservador do Talibã. Mas as autoridades aqui dizem que a rápida propagação da tecnologia móvel tornou mais fácil gerenciar o comércio e mais difícil de detectá-lo, permitindo que a prostituição se expandisse.
Há muitos anos, os bordéis operavam abertamente por aqui, tipicamente como hotéis, que os homens podiam visitar sem medo do escrutínio. Mas há alguns anos, Atta Mohammed Noor, o poderoso governador da província vizinha de Balkh, ordenou uma repressão. Os bordéis quase que desapareceram.
No lugar dos bordéis, surgiu uma rede decentralizada. As mulheres agora recebem clientes em uma série de apartamentos pela cidade ou, às vezes, em suas próprias casas, conforme afirmam grupos de ajuda humanitária e mulheres envolvidas no comércio sexual. O ponto de contato é tipicamente um homem que marca os encontros por telefone celular.
Isso dificultou a infiltração do negócio por parte dos agentes policiais ávidos por autuar. O subchefe da polícia em Mazar, Abdul Razaq Qadiri, levantou as mãos em desespero ao ser indagado sobre a prostituição na cidade.
- Diga-me onde elas estão - gritou - Elas não exatamente penduram letreiros nas portas.
O investigador-chefe da polícia refinou a explicação de seu chefe.
- Há alguns anos, não tínhamos telefones celulares, computadores ou a Internet - disse o General Salahuddin Sultanis, o chefe das investigações criminais da província de Balkh -Toda essa tecnologia aumentou o relacionamento entre as pessoas, e ela dificulta o rastreamento.
As mulheres envolvidas no comércio aqui compartilham das mesmas histórias conhecidas. Elas são quase sempre empobrecidas e tipicamente divorciadas ou viúvas, lutando para sustentar a família. Às vezes, os próprios familiares as forçam a entrar na prostituição, para ajudar a pagar as contas ou a sustentar o vício de entorpecentes do marido.
A maioria sabe que, uma vez que começam a se vender para o sexo, correm o risco de morrer se forem descobertas, e de doenças sexualmente transmissíveis se não forem.
Casada aos 13 anos, Aziza Jan entrou na prostituição após o marido divorciar-se dela, vários anos atrás, e deixá-la com seis crianças para criar, ela afirmou. Sua família não tem dinheiro para ajudá-la, e seus filhos são novos demais para trabalhar.
Com um rosto arredondado e um sorriso fácil, Aziza, de 35 anos, mora em um prédio cor de lavanda numa rua tranquila. Ela recebe seus clientes na sala da frente, coberta de carpetes e travesseiros, com um fogão a lenha e um televisor em um canto.
- A minha mãe me deu em casamento em uma idade muito tenra, o que foi uma péssima ideia - disse enquanto seu filho pequeno se agarrava em suas pernas - Ela nunca telefona para falar conosco, para ver como estamos.
Envergonhada de falar sobre o que faz, ela insistiu que a maioria de seu dinheiro vem do trabalho de costureira. Seu filho mais velho está atingindo a maioridade agora, e ela tem esperanças de que ele possa ajudar a diminuir as dificuldades financeiras da família quando terminar os estudos.
- Acima de toda mágoa e dor, tento me manter feliz - disse com um riso - Eu olho para os meus filhos, e eles são a minha alegria.