Entre os dias 28 e 30 de janeiro, o escritor brasileiro Fernando Morais esteve em Cuba na companhia do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O motivo da viagem foi o lançamento da edição cubana de seu livro mais recente, Os Últimos Soldados da Guerra Fria. Amigo de Fidel Castro e Raúl Castro, os dois homens mais poderosos de Cuba, desde que escreveu o livro-reportagem A Ilha, em meados dos anos 1970, Morais encontrou-se com os irmãos em companhia de Lula e ouviu que o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, internado num hospital de Havana desde 11 de dezembro, está em recuperação e faz fisioterapia.
Leia trechos da entrevista concedida ontem, por telefone, de São Paulo, a Zero Hora:
Zero Hora - O senhor viajou a Cuba em companhia do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O que soube sobre o estado de saúde de Hugo Chávez?
Fernando Morais - Voltei ontem (domingo). A viagem foi muito rápida, ficamos apenas três dias. Não tivemos a oportunidade de ver o Chávez. Almoçamos, Lula e eu, com Raúl (Raúl Castro, presidente de Cuba) e depois jantamos com Raúl na embaixada brasileira, em uma homenagem a Lula. Estivemos também com Fidel (Fidel Castro, ex-presidente de Cuba). Quando estávamos almoçando com Raúl, chegou um telefonema de Fidel, dizendo que ele queria ver Lula e a mim. Fomos até lá e passamos a tarde com ele.
ZH - Como vai a saúde de Fidel?
Morais - Está bem, está bem. Inclusive ele apareceu hoje (ontem), votando. Claro que ele é um ancião, um homem de 87 anos, que já passou por problemas de saúde, mas está bem. Perguntamos a ele sobre Chávez, e ele disse que Chávez estava bem, se recuperando.
ZH - Então, não houve um contato mais direto?
Morais - Por casualidade, a minha filha teve um problema gástrico, com diarreia e diarreia, e eu estava um pouco preocupado, porque há um surto de cólera. Fiquei aterrorizado com aquilo. E minha filha foi internada no hospital onde está Chávez. E eu brincava com ela: sai durante a noite aí, caminha pelos corredores e descobre onde está o Chávez. Mas, claro, era uma brincadeira. Ela dormiu uma noite lá.
ZH - Como é o hospital?
Morais - Chama-se Centro de Investigações Médico-cirúrgicas (Cimeq, sigla em espanhol). Fui até lá visitar minha filha, porque minha neta estava conosco, nervosa. Acho improvável que ela estivesse no mesmo andar que Chávez. Ela passou a noite lá, recebeu soro. Paguei R$ 170. É um hospital de alta tecnologia. Só me preocupei com a possibilidade de ela ter contraído cólera, mas os resultados dos exames saíram quatro horas depois, e não havia nada. Não havia segurança ostensiva no hospital devido à presença de Chávez.
ZH - O que se comenta nas ruas sobre Chávez?
Morais - Dizem que ele está se recuperando, que passou por momentos delicados, mas que está no pós-operatório. O Maduro (Nicolás Maduro, vice-presidente da Venezuela, que está no exercício da presidência) não esteve lá. Quem esteve, mas eu não vi porque tive de ir até a Telesur para dar uma entrevista, foi o Elías Jaua, que é o chanceler agora (substituiu Maduro, que acumulava a vice-presidência e a chancelaria).
ZH - Vocês perguntaram aos irmãos Castro sobre Chávez?
Morais - Lula e eu perguntamos a Fidel como está o comandante (Chávez). Ele disse que está bem, está se recuperando. Chávez passou por momentos muito difíceis, mas está fazendo fisioterapia e tal.
ZH - Lula tentou visitar Chávez no hospital?
Morais - Não. Quando a gente viajou, eu disse: "Seria legal, presidente, ver o Chávez". Ele disse: "Eu não acredito". Se ele estivesse em condições de receber visitas, teria enviado uma mensagem para a cerimônia de abertura da Celac, em Santiago do Chile. Não, não quis ir. Já saiu daqui sem a expectativa de se encontrar com Chávez.
ZH - Que outro compromisso o senhor teve por lá?
Morais - Fomos visitar o porto de Mariel, cuja ampliação é financiada pelo BNDES. É uma obra de US$ 1 bilhão, a maior desde a revolução (em 1959), que vai concorrer com o Canal do Panamá. A presidente Dilma Rousseff vai lá em janeiro de 2014 para a próxima reunião da Celac (Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos), porque Cuba terá a presidência no próximo biênio. Ela vai inaugurar o porto.
ZH - Há novas regras sobre imigração no país. Como o senhor vê as mudanças?
Morais - É saudabilíssimo, saudabilíssimo. Aliás, eu estava lá quando o Brasil deu o visto de entrada para a Yoani Sánchez (blogueira e ativista de oposição). Havia uma expectativa muito grande: dá, não dá. E ela foi lá e bateu na porta da embaixada, e o embaixador disse o seguinte: "Paga a taxa e tudo bem".
ZH - Quando será filmada a a adaptação de Os Últimos Soldados da Guerra Fria para o cinema?
Morais - Não sei. Tem gente nos Estados Unidos que leu a sinopse e se interessou. Mas, como não sou mais o proprietário dos direitos, entro aí meio marginalmente. Quando estava escrevendo, me disseram para fazer uma sinopse de uma página da história, para um cara que queria comprar para o cinema. Foi para um investidor do cinema, que compra histórias e livros. Ele leu e comprou os direitos para o cinema sem que eu tivesse escrito uma página. Esse dinheiro que acabou financiando o final do trabalho.
Entrevista
"Minha filha foi internada no hospital onde está Chávez", afirma Fernando Morais
O escritor esteve em Cuba, ao lado do ex-presidente Lula, em janeiro, para o lançamento do livro Os Últimos Soldados da Guerra Fria
Léo Gerchmann
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