Nova York - Um bom jeito de descobrir se você deveria entrar no quarto de um adolescente é se fazer uma pergunta única e implacável: eu sou um adolescente?
Se a resposta fosse sim, você já estaria do lado de dentro.
Para o resto de nós, quartos de adolescentes são um pouco como a Terra do Nunca: nós podemos ter lembranças boas, mas apenas um esquisitão tentaria voltar para eles.
Então o mistério permanece: o que eles andam fazendo lá dentro?
No caso de Emma Orlow, de 17 anos, e Emily Cohn, de 18, elas estão orquestrando a estreia de um novo site e uma série de vídeos na internet. As melhores amigas (que também são artistas, empresárias da mídia e estão no último ano do ensino médio na Trevor Day School, no Upper West Side) chamam seu projeto de documentário de The Do Not Enter Diaries (algo como "Os Diários do 'Não Entre'").
É uma época auspiciosa para uma jovem começar uma indústria em seu próprio quarto. Tavi Gevinson, de 16 anos, fundadora da revista Rookie, parece ter prendido a imaginação da mídia como nenhum editor de Chicago desde Hugh Hefner. Caloura do ensino médio, Maude Apatow coloca na rede suas noções de vida para mais de 120 mil seguidores no Twitter. E uma garota de 14 anos em Jacarta, Indonésia, chamada Evita Nuh, há mais de quatro anos dita tendências de moda saídas de seu guarda-roupas.
Orlow tinha apenas 13 anos quando começou seu blog, The Emma Edition, para fazer crônicas sobre uma Nova York jovem que ela não via na imprensa. Ela também publicou cerca de 100 resenhas e colunas assinadas no blog da revista Bust, no The Huffington Post e no Refinery29.
- Acho que muitas vezes a mídia tem um fetiche pelos adolescentes - disse ela - São pessoas na casa dos 50 lembrando como era ser adolescente.
Recentemente, em uma tarde de sábado, as garotas estavam fazendo publicidade em uma área de trabalho que elas usam como ilha de edição, estoque periódico, recanto para escrever, guarda-roupas e lounge. Em outras palavras, o quarto de Cohn.
Uma máquina de chicletes Wiz Kid estava de sentinela no canto. Outra posse estimada, segundo Cohn, era uma coisa efêmera na estante de livros: uma cantiga escrita por seu pai, o cantor e compositor Marc Cohn. O resto da casa, a quem possa interessar, é um apartamento amplo clássico no Upper West Side com vista para o Museu de História Natural.
- Veja o Nickelodeon e o Disney Channel - disse Cohn - Há uma figura específica do personagem adolescente. A maioria deles é indiferente e idiota.
Pelo que dizem as garotas, The Do Not Enter Diaries será algo mais ambicioso: um projeto artístico, um estudo antropológico global, uma campanha da Kickstarter (site pago que fornece ferramentas para arrecadar fundos online), uma empresa parceira de anunciantes, um trabalho de verão e, muito possivelmente, uma carreira.
O caderno aberto em cima da mesa de Cohn indicava que ela tinha lição de casa para segunda-feira.
Cohn e Orlow, e seus "correspondentes" adolescentes, parecem trabalhar o tempo inteiro. Eles estão desenhando roupas, ajudando a plantar jardins comunitários, fazendo solos de guitarra e pulando em suas camas ao som de músicas altas e provavelmente deprimentes.
- Eu acho que os adolescentes sempre foram criativos - pontuou Orlow.
A novidade, completou Cohn, é que agora todo mundo pode ser profissional.
Cohn e Orlow não precisam limitar seu escopo para liderar o jornal da escola, aesar de estarem fazendo isso também. Elas já filmaram um quarto de adolescente em Mumbai. E as duas, recentemente, receberam uma pesquisa de um cineasta adolescente e candidato a colaborador na Nova Zelândia.
- Eu sei que muita gente acha que você se forma no ensino médio, depois na faculdade e daí procura seu primeiro emprego. Eu nunca tive essa visão. Eu acho que seu primeiro emprego pode ser no ensino médio - diz Orlow.
Há pouco tempo, não havia nada parecido com quarto de adolescente. Também não havia adolescentes, ao menos como os vemos hoje, segundo Elizabeth Cromley, historiadora de arquitetura e autora do livro "Sleeping Around: A History of American Beds and Bedrooms" (algo como "Dormindo por aí: Uma História das Camas e Quartos de Dormir na América").
- Esperava-se que as crianças começassem a ajudar na fazenda aos 6 anos de idade - disse Cromley, falando de sua casa no Maine - Eles eram pequenos trabalhadores. As crianças são inúteis hoje. Você precisa colocá-las em algum lugar!
As plantas arquitetônicos de uma casa de cidade nova-iorquina do século XIX incluíam quartos sem título e indiferenciáveis, algumas vezes perto do quarto principal. Uma babá poderia ocupar um, com a prole se encaixando no restante.
- As crianças eram uma pilha genérica de pessoas que não eram muito velhas - disse Cromley.
Ainda assim, as revistas de decoração do início do século XX afirmavam que o quarto tinha seu papel na formação do caráter.
- Se você quer que meninos se tornem presidentes de banco, eles precisam ser ordenados - ela disse - Então você oferece espaços para que eles tenham coleções, coisas como moedas, selos e pontas de flechas.
Quartos de meninas precisariam de montes de frescuras, inevitavelmente. Mas uma escrivaninha e uma estante de livros seriam indicadas também, para cultivar seu lado nobre.
O próprio nome do The Do Not Enter Diaries dá dicas sobre outra tradição nos quartos de menina, de acordo com Katynka Martinez, professora adjunta na Universidade Estadual de São Francisco que tem pesquisado e escrito sobre os adolescentes e as novas mídias. Que seriam o próprio diário.
- Essa prática, já tida como feminina, foi propícia para criar o blog - explicou Martinez. E o que é um Pinterest ou um Tumblr se não uma versão digital da montagem com fotos de celebridades, coladas nas paredes das garotas?
Orlow, por sua vez, mantém o Emma Edition, um Tumblr e uma galeria no Flickr para exibir seus desenhos e fotografias urbanas originais. Ela usa o 8tracks para compartilhar listas de música. E, obviamente, ela tuíta.
A qualquer momento, ela e Cohn podem estar mantendo conversas diferentes em duas dessas plataformas e conversando no telefone, a caminho de se encontrarem. Orlow mora do outro lado do Central Park.
- Eu acordei às sete da manhã hoje - disse Cohn - Isso é natural para mim. Eu não uso despertador. A menina completa afirmando que odeia não ser "produtiva". Orlow pontuou - Eu acordo na mesma hora.
Um cético poderia procurar pelos pais coreografando esse espetáculo. Não se incomode. Na verdade, você mal detecta a presença de uma acompanhante. As garotas preencheram seus próprios questionários da mídia. E recentemente elas abriram uma empresa e contrataram um advogado, pago pelos pais.
- Isso não são nossos pais nos dando dinheiro de presente - disse Orlow - Isso é um empréstimo. Mesmo que eles não lembrem, nós iremos pagá-los com juros.
Cohn e Orlow têm seus próprios planos de sucessão. As garotas se inscreveram para faculdades diferentes.
- Este não é um projeto que vai acabar no ensino médio - disse Orlow - Está apenas começando.
Cohn já começou a elaborar um plano.
- Nós poderíamos achar outras duas pessoas - ela disse - Adolescentes, é claro.
As garotas têm tentado apresentar alguns adolescentes mais jovens no The Do Not Enter Diaries.
- As pessoas passam por jornadas diferentes tentando se encontrar em momentos diferentes em suas vidas - disse Cohn - Alguém com 13 anos pode ser mais interessante do que alguém mais confiante de 18 anos.
Cohn brincava com uma pulseira Hello Kitty Silly Bandz, presente de aniversário de Orlow.
- Nós queremos descobrir o que a próxima geração depois de nós está pensando - disse ela.
Um dia, inevitavelmente, você esquece de perguntar o que a juventude pensa. E aí, é tarde demais: você está velho.
The New York Times
Jovens empreendedoras de Nova York revelam segredos dos adolescentes na internet
Em episódios semanais, duas americanas, de 17 e 18 anos, prometem levar o telespectador para dentro do quarto delas
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