Los Angeles - O silêncio prevaleceu durante as rotinas de ioga asana da nona Copa anual Bishnu Charan Ghosh - exceto por um som distinto: o ronco do motor de aviões decolando e aterrissando no Aeroporto Internacional de Los Angeles.
Essa competição internacional também fez um certo barulho, mas é difícil prever qual será o seu futuro. Será que ela vai se tornar um esporte reconhecido no cenário olímpico, como Rajashree Choudhury, fundadora da USA Yoga e da Federação Internacional de Esportes da Ioga, espera? Ou estaria ela destinada a permanecer como um elemento peculiar trazido da Índia, praticada por um único grupo de iogues seguidores de Bikram?
- Todos são bem-vindos aqui - disse Choudhury, esposa de Bikram Choudhury e cinco vezes campeã nacional da Índia. - Precisamos de tanto iogues e estilos quanto possível para tornar esse sonho uma realidade.
O evento foi realizado no Hotel Radisson do Aeroporto Internacional de Los Angeles, onde o salão espelhado foi transformado em um estádio de ioga competitiva, enquanto os corredores de entrada viraram salas de aquecimento para os iogues. Do palco, uma imagem em forma de coroa drapeada de Bishnu Ghosh, guru de Bikram Choudhury, observava, enquanto sete juízes, sentados, tomavam notas de críticas às rotinas a lápis.
- A qualidade dos atletas tem evoluído muito - disse Jon Gans, organizador e ex-juiz do evento. - Posturas como a do pavão, que pareciam ser um desafio extremo no primeiro ano do evento, agora parecem normais.
A Copa Bishnu Charan Ghosh de 2003, antes da federação tomar as rédeas, era um negócio de Bikram. O enorme Staples Center abriu espaço para centenas de vendedores de artigos de ioga, e a competição foi abafada pelas mercadorias. Menos de 10 países foram representados. Há quem diga que Bikram perdeu 250 mil dólares.
Apesar do evento ser mais focado agora - e muitas vezes servir como uma plataforma para que os iogues contem suas histórias - o número de concorrentes cresceu. Em um jantar na noite de sexta-feira, Rajashree Choudhury saudou os 75 concorrentes de 24 países.
Durante todo o fim de semana, o Rolls-Royce personalizado de Bikram Choudhury ficou estacionado na entrada do hotel, e ele permaneceu caminhando por toda a parte, trocando de roupa seis vezes no fim de semana. Uma jaqueta de lantejoulas prata, que teria alegadamente inspirado Michael Jackson, brilhava tanto que uma concorrente confessou ter sido distraída por ela no palco.
No começo, Rajashree Choudhury evitava a palavra "competição", pedindo aos participantes que aceitassem o que quer que acontecesse com humildade e um sorriso.
- Brilhe no palco - disse ela. - Esse deve ser o seu mantra... Não existem rivais, apenas treinadores que são seus colegas.
Mais tarde, porém, ela comparou a Copa Ghosh a outros eventos esportivos, e o etéreo deu lugar ao mundano.
Mary Jarvis, treinadora de sete campeões mundiais, relatou alterações de última hora na metodologia de pontuação do quesito beleza. Quando os treinadores reclamaram educadamente sobre o aviso de última hora e a falta de organização, Jarvis disse:
- Este é um trabalho que ainda está em curso.
Os competidores tinham três minutos para completar cinco posturas compulsórias da série de iniciantes de Bikram e duas posturas opcionais, que normalmente vinham da série avançada. Os juízes consideraram o grau de dificuldade da postura e "quão bem o corpo revela os benefícios terapêuticos da prática".
O hino nacional deu início à rodada eliminatória daquele sábado, mas havia pouco que lembrava um evento olímpico, exceto a impressionante capacidade dos atletas. Os juízes subiram ao palco vestidos com elegância e os eventos terminaram só duas horas depois do previsto. O salão de festas, para 800 pessoas, ficou semivazio em alguns momentos. O número de visitas ao site do evento durante todo o fim de semana ultrapassou 10 mil.
Dez homens e dez mulheres passaram da etapa eliminatória de sábado para a final de domingo, incluindo sete americanos. Os Estados Unidos, com uma rede desenvolvida de estúdios de ioga, apresentaram quatro representantes da competição nacional, bastante concorrida, enquanto outros, como a China, enviaram apenas uma - sendo que ela mora em Boulder, no Colorado.
A neta de Bishnu Ghosh, Muktamala Mitra, disse achar que os americanos parecem ser mais ambiciosos na prática da ioga.
- Eles lutam mais e trabalham mais - disse ela.
Rumores de que alguém tentaria uma postura de pavão com apoio sobre uma mão e pernas arqueadas, algo que os juízes, há nove anos, diriam ser inimaginável, espalharam-se por todo o hotel. A proeza foi realizada por Dipannita Mondal, de 17 anos, vencedora da categoria juvenil feminina da Índia.
O papel da Copa Ghosh é impulsionar a prática da ioga asana, fazendo como que os observadores, especialmente os jovens, acreditem que também podem se dedicar ao esporte. Dos 13 concorrentes da categoria juvenil (de 11 a 17 anos), cinco eram da Índia, e havia três irmãos do Canadá.
- Quando comecei, há dois anos, eu não conseguia ficar com os joelhos retos enquanto fazia uma flexão para a frente - disse Toby Killick, de 13 anos, que ficou em quarto lugar. - Dá para dizer que era uma situação bem triste.
Alguns de seus amigos acham legal que ele sabe fazer retroflexões; outro tentou acompanhá-lo em uma aula uma vez, mas vomitou no estúdio, que estava quente, depois de beber muita água.
- Eu contou a ele como funciona, mas leva algum tempo para se acostumar com a prática - disse Killick.
Os participantes da Índia, onde as competições de ioga acontecem há aproximadamente um século, foram absolutos na categoria juvenil, arrancando suspiros da multidão com flexões que os faziam parecer ter corpo de borracha. Eles subiam e desciam do palco, às vezes com mais de 30 segundos de sobra.
- Eles são muito tímidos - disse Rajashree Choudhury, observando que alguns são de aldeias rurais e a maioria não fala inglês. - Eu os trago ao Ocidente para que aprendam quanto ao desempenho.
Quando competia na Índia, contou Rajashree, o público batia panelas e frigideiras para fazer com que os participantes se distraíssem, algo não muito diferente do que uma equipe adversária faz em um momento de pressão no arremesso de um lance livre.
No salão, o mestre de cerimônias pediu silêncio, antes de garantir que o público passaria o resto da vida sendo atormentado psicologicamente caso algum celular tocasse.
Houve um número surpreendente de quedas nas finais masculinas, algo que Choudhury atribuiu ao estresse mental. O campeão norte-americano, Jared McCann, ficou em terceira lugar depois de escorregar de sua postura do escorpião com parada de mão em uma roda completa.
Gloria Suen, de 35 anos, de Singapura, levou a medalha de ouro entre as mulheres por fazer um arco completo de pé, realizado com os braços bem abertos, como se fossem asas de avião. Juan Manuel Martin-Busutil, de 33 anos, da Espanha, conquistou o título masculino após executar uma postura invertida de palmeira que refletiu a paisagem externa.
- Estar de cabeça para baixo é uma maneira de suspender a minha mente e relaxar -conta ele. - Mas a ioga também é meu modo de entrar em contato com a realidade.
Viajar o mundo, promovendo e demonstrando a ioga asana, é um dos deveres dos campeões.
- Cada um de vocês está fazendo história e ajudando esse esporte a evoluir - disse Joseph Encinia, dos Estados Unidos, campeão mundial masculino no ano passado. - Estamos indo bem, mas ainda não estamos em um nível olímpico.
The New York Times
Em evento mundial, prática de ioga como esporte não se resume a posturas
Copa anual Bishnu Charan Ghosh, que ocorreu em Los Angeles, teve 75 concorrentes de 24 países
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