O mais recente vídeo que estoura na internet não é sobre bebês dando risadas nem adolescentes cantando ou voltando do Canadá; é sobre Joseph Kony, um senhor da guerra responsável por escravizar e estuprar milhares de crianças em Uganda.
O documentário Invisible Children (Crianças Invisíveis), criado por cineastas de uma ONG homônima, espalhou-se como um fenômeno nas redes sociais, mas também foi criticado com grande força.
O trabalho divulgado na internet na segunda-feira já teve, apenas no YouTube, quase 40 milhões de acessos. São 29 minutos de imagens e de uma narrativa ao estilo hollywoodiano dedicada a arrecadar atenção - e dinheiro - para deter Kony, líder da milícia Exército de Resistência do Senhor (LRA) e criminoso procurado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) por crimes contra a humanidade.
Ben Keesey, 28 anos, diretor-executivo da Invisible Children, avalia que a rápida popularidade da campanha significa que a mensagem teve eco.
- O principal é que há algumas poucas ocasiões nas quais o problema é branco ou preto. Há muitas situações complicadas no mundo, mas os atos de Joseph Kony são branco e preto - destacou Keesey.
O grupo rebelde é responsável por dezenas de milhares de assassinatos e mutilações há mais de duas décadas. A milícia sequestra crianças e as obriga a servir como soldados ou escravos sexuais.
Depois de treinadas, algumas são obrigadas até mesmo a matar os próprios pais, como forma de cortar completamente suas raízes, e se transformarem em assassinos profissionais.
Campanha despertou críticas e desconfiança
Dois dias depois do lançamento do vídeo, a mobilização também foi alvo de uma enxurrada de críticas. Analistas de política internacional chamaram-no de ingênuo por não questionar o problema gerado pelos 26 anos do presidente no poder e de desatualizado: desde outubro, militares dos EUA têm auxiliado as forças armadas de Uganda e não há indícios de retirada da ajuda.
Os moradores do país protestaram contra o filme por reforçar o estereótipo de país africano, miserável e dependente de ajuda externa.
Em meio a tantas malhações, Jacob Acaye, 21 anos, um dos personagens do filme, defendeu a ONG contra as acusações. Ele perdeu um irmão em 2002, quando os dois foram sequestrados pela milícia de Kony.
- Até agora, a guerra que estava acontecendo era silenciosa. Eles estão fazendo um bom trabalho.
No YouTube
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