Cavalariano que levava centelha da Chama Crioula será sepultado sábado

Será sepultado na manhã deste sábado o cavalariano Paulo Afonso Dorneles Pinto, 56 anos, em Santa Cruz do Sul, no Vale do Rio Pardo.

Na sexta-feira, poucas horas após o início da Semana Farroupilha no município, os bombeiros encontraram o corpo dele, que estava desaparecido desde terça-feira. Parcialmente submerso, foi achado às 12h45min, a cinco quilômetros de onde o tradicionalista caiu durante travessia sobre o Rio Pardinho, em Sinimbu, no Vale do Rio Pardo. 

- A única coisa que nos conforta é saber que ele morreu fazendo o que mais gostava, que era cavalgar com os amigos. Mas a falta que ele vai fazer é impossível descrever -desabafou um dos filhos do cavalariano, Paulo Ricardo Treiber Pinto, 32 anos. 

Quatro horas antes do fim da procura, um candeeiro aceso chegou ao centro de Santa Cruz, iniciando oficialmente a Semana Farroupilha da cidade de onde, dias antes, Dorneles Pinto partira para buscar uma centelha da Chama.

Ao invés de chegar pelas mãos dos cavalarianos, a centelha foi levada por dois integrantes do Cavaleiros da Integração, grupo do qual ele fazia parte, e pelo presidente da 5ª Região Tradicionalista (RT), Luiz Clóvis Vieira, em um carro de bombeiros.

- Ele fez essa cavalgada com o objetivo de trazer a chama para Santa Cruz. Atendemos a vontade dele - disse. 

Com outros 11 integrantes do Cavaleiros da Integração, o cavalariano havia se deslocado até Venâncio Aires, de onde retornava, no dia do acidente. Sexta-feira, na cerimônia repleta de lágrimas e discursos emocionados, a fita branca fixada na lapela dos tradicionalistas foi substituída pela preta, indicando o luto. 

Nos três dias e meio sem respostas, os tradicionalistas, que participavam da cavalgada, não arredaram pé de Sinimbu, intercalando vigília e ajuda nas buscas.

- É uma perda irreparável. O Paulo era um dos principais pilares do grupo. Tivemos que nos unir muito para não sucumbir à dor - relata Paulo José da Rocha Machado, 52 anos, coordenador da cavalgada. 

Desde o acidente, todas as noites, o grupo se reunia em torno do altar improvisado, com a centelha e os pertences recuperados do amigo, para rezar. Após receber a notícia de que o corpo havia sido encontrado, os cavalarianos levantaram acampamento e deixaram Sinimbu para completar os 50 quilômetros restantes e chegar a Santa Cruz do Sul. Em uma carroça, levavam os pertences do parceiro de cavalgadas. 

O grupo foi recebido no Parque da Oktoberfest por tradicionalistas de diferentes Centros de Tradições Gaúchas (CTGs) e, juntos, fizeram um cortejo levando o corpo até o CTG Rincão da Alegria, de Santa Cruz do Sul, ao qual pertencia Dorneles Pinto, para realização do velório. 

Tradicionalismo perde uma referência 

Paulo Afonso Dorneles Pinto era uma referência do tradicionalismo de Santa Cruz do Sul e da região. Em 1995, foi um dos fundadores do Cavaleiros da Integração, criado com participação de integrantes de todo os CTGs da cidade. O objetivo era ir até a cidade da Chama Crioula e trazer uma centelha para Santa Cruz. 

Em 17 anos, o grupo se renovou, ganhou novos componentes e cavalgou pelos quatro cantos do Estado. Dorneles Pinto participou de todas as incursões em busca da Chama, colecionando amizades.

- Um dos casos mais marcantes foi na cavalgada de 2006, quando fomos buscar a centelha em São Gabriel. Paulo era coordenador do grupo. Na volta, morreram cinco cavalos envenenados por uma planta. Foi muito difícil, mas Paulo foi firme e calmo como sempre - conta Jorge Goularte, 56 anos. 

Como marido, pai de dois homens e duas mulheres e avô de seis crianças, Dorneles Pinto também é descrito como um homem exemplar.

- Ele amava o tradicionalismo, mas a família, para ele, estava acima de tudo. Ele estava todo feliz porque iria ganhar mais dois netos, gêmeos, filhos da minha irmã, que estão prestes a nascer. É uma pena que ele não poderá conhecê-los - lamenta o filho, Paulo Ricardo Treiber Pinto, 32 anos. 

Presidente da Semana Farroupilha de Santa Cruz, João Norberto Lacerda explica que a programação será mantida, e, até o dia 20, as bandeiras serão mantidas a meio mastro. Minutos de silêncio serão respeitados antes dos hasteamentos e arriamentos de bandeiras, dos jantares e das tertúlias.