Popular no Rio Grande do Sul, a chula é uma dança típica de Portugal. Desde sua origem, movimenta milhares de apaixonados que buscam acompanhar, nos festivais, passos aparentemente difíceis. E não só isso: ela também desperta muitas curiosidades e guarda diversas especificidades. O instrutor e chuleador Roger Izidoro, de 36 anos, garante que a chula é uma das mais queridas tradições do Estado.
– É uma dança muito conhecida na nossa região. As pessoas gostam muito de ver e prestigiar os dançarinos. Por ter uma característica bem marcante, através de sapateios e trejeitos, faz com que a atenção do público se prenda aos peões que estão dançando. A dança representa a autenticidade do homem gaúcho – salienta Izidoro.
Recorrendo ao Manual de Danças Gaúchas, de Paixão Côrtes e Barbosa Lessa, a chula foi introduzida pelos tropeiros, é dançada em desafios e praticada, preferencialmente, por homens. Ela tem bastante semelhança com o lundu sapateado, encontrada em outros estados brasileiros, pois é caracterizada pelas batidas dos pés. Durante a dança, um peão desafia o outro a realizar uma sequência de sapateios ao redor de uma lança no chão, com acompanhamento musical. É executada, então, uma sequência de passos de uma extremidade do objeto até a outra ponta, com movimentos como floreios de taco, bico, joelho e pulos.
– Após a conclusão, o chuleador repete a mesma sequência para retornar à posição de início do passo. Não pode executar o mesmo movimento de seu adversário ou até mesmo algo parecido que possa vir a lembrar o que o opositor fez. E, logicamente, não pode tocar na lança – ressalta Izidoro.
Indumentária: cores têm significados
Para a realização da chula, os homens vestem a pilcha, tradicional vestimenta gaúcha. A indumentária completa inclui botas de cano mole e grandes esporas, bombacha, guaiaca, camisa de cor única, lenço de seda no pescoço e chapéu, além de acessórios que podem variar como colete e faixa na cintura.
As cores escolhidas para os lenços representam os ideais políticos e sociais do gaúcho na época da Revolução Farroupilha. A cor preta, por exemplo, significa, tradicionalmente, o sentimento de luto por algo que o peão está enfrentando. Recentemente, Izidoro perdeu seu pai por conta da Covid-19 e, em sua homenagem, mudou o lenço.
– Estou em luto pelo falecimento de meu pai. Por isso, pretendo usar o preto durante um ano, sempre que me pilchar – destaca Izidoro, que complementa:
– A chula é muito mais que uma tradição, envolve paixão, dedicação e estilo de vida. Basta ter vontade, e todos podem iniciar nessa aventura pelo tradicionalismo gaúcho.
Uma vida dedicada à dança
O instrutor foi iniciado na chula aos 14 anos, com o objetivo de aperfeiçoar o sapateado. De lá para cá, ele viu o seu amor e dedicação aumentarem pela dança, participando de rodeios, festivais e competições em geral.
– Em 2001, participei, pela primeira vez, do Encontro de Artes e Tradição (Enart). No ano seguinte, fui classificado para a finalíssima em Santa Cruz do Sul e fiquei em 9° lugar, dentre 35 chuleadores. A chula representa o início de tudo em minha vida de festivais e competições. Foi através dela que percebi que poderia alçar voos maiores – reflete.
Participante da websérie Realitchê, Izidoro não esconde o orgulho de ser um chuleador. Ele, que também ajuda a formar diversos alunos, dá conselhos a quem deseja iniciar na dança.
– Nada substitui o treino, o ensaio, o esforço, a repetição. O aprimoramento da técnica da chula não é do dia pra noite. O que sempre digo é que, quanto antes iniciar o aprendizado, melhor. Necessita de tempo, dedicação e disciplina. A perseverança de não desistir jamais é essencial para atingir o objetivo – afirma o chuleador.
A websérie Realitchê coloca à prova conhecimentos sobre a cultura farroupilha entre cinco perfis de gaúcho: fiel, raiz, não praticante, exportação e desapegado. São seis episódios, ao todo, exibidos em GZH, e duas equipes com cinco tipos de participantes cada estão na disputa. Entre os representantes, há comunicadores, tradicionalistas do estado e gaúchos anônimos. Fique ligado em GZH para acompanhar!
O Realitchê é uma iniciativa do Grupo RBS, patrocinado por Nacional e Equatorial e apoiado por Tumelero e Isabela.