
Mais da metade da população de Bagé, na Campanha, mora em ruas sem pavimentação, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Isso faz com o que essa seja a quarta concentração urbana do país com mais moradores vivendo nessa condição, 54,29% deles. O conceito de concentração urbana, para o IBGE, considera municípios, agrupados ou isolados, com população acima de 100 mil habitantes.
De acordo com levantamento, que faz parte do Censo 2022 e foi divulgado nesta quinta-feira (17), quatro das 10 concentrações urbanas brasileiras com os maiores percentuais de moradores vivendo em ruas não pavimentadas são gaúchas: além de Bagé, Uruguaiana, Rio Grande e Pelotas.
Procurada, a prefeitura de Bagé disse, em nota que "reconhece as deficiências históricas em infraestrutura urbana no município, especialmente no que diz respeito à pavimentação de vias". Destacou que tem como diretriz que "nenhuma obra de asfaltamento ou calçamento é realizada sem a implantação prévia da rede de saneamento básico no local". Acrescentou que já existem projetos com recursos assegurados para pavimentação e que trabalha para "avançar na infraestrutura urbana, com foco especial em garantir que os investimentos em calçamento estejam atrelados a soluções definitivas de saneamento" (leia a íntegra do posicionamento no fim desta reportagem).
À reportagem, a Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs) diz que este é um tema que preocupa as administrações municipais, uma vez que "o custo destas obras se elevaram muito". Ainda segundo a Famurs, "nos últimos três anos, o governo do Estado tem sido parceiro dos municípios no Programa Pavimenta que repassa recursos para melhorias da infraestrutura urbana, ou seja pavimentação" e há expectativa de uma nova etapa do programa. "Os prefeitos têm buscado apoio nas emendas parlamentares e em alguns casos nos financiamentos específicos, o qual poderemos avançar muito nestes próximos quatro anos", completa.
Os dados revelam que 17,25% dos moradores do Rio Grande do Sul residem em ruas não pavimentadas, ou seja, 1,6 milhão de gaúchos convivem diariamente com poeira e demais inconvenientes causados pelas estradas de chão.
O Estado tem a oitava maior população vivendo nessa situação. O primeiro é o Pará, com 30,4% dos seus moradores localizados em vias sem pavimento.
Acessibilidade
Outro dado apresentado pelo IBGE diz respeito à acessibilidade. Apenas 20,24% (1.897.527) dos moradores do RS vivem em domicílios onde a calçada possui rampa de acesso a cadeirantes.
Apesar do baixo percentual, esse é o quarto maior registrado entre os Estados brasileiros. Sendo Mato Grosso do Sul o primeiro (41,05%), seguido por Paraná (37,33%) e Mato Grosso (22,41%).
Em Porto Alegre, o Censo mostrou que 34,58% (456.386) dos moradores estão em domicílios onde há infraestrutura de acessibilidade. Quase metade, 47,05% (620.912) mora em locais que não trazem rampas para facilitar a locomoção de cadeirantes. Em outros 18,37% não foi declarado se há ou não a estrutura.
Leia a nota da prefeitura de Bagé na íntegra:
"A Prefeitura de Bagé reconhece as deficiências históricas em infraestrutura urbana no município, especialmente no que diz respeito à pavimentação de vias. Esta é uma realidade desafiadora, resultado direto de fatores estruturais, econômicos e regionais que, ao longo do tempo, impactaram o desenvolvimento urbano da cidade.
Todas as cidades gaúchas que lideram o ranking de maior número de moradores em ruas não pavimentadas pertencem à chamada Metade Sul do Rio Grande do Sul, região que, segundo dados do IBGE e do Corede Campanha, concentra os mais baixos indicadores de renda, desenvolvimento humano e investimento público per capita do Estado. Trata-se de uma área que perdeu protagonismo industrial nas últimas décadas, agravando a dificuldade de captação de recursos e execução de grandes obras públicas.
Essa vulnerabilidade econômica regional impacta diretamente a capacidade do município em realizar obras estruturantes. No caso de Bagé, a ausência de pavimentação está profundamente conectada à falta de planejamento urbano em décadas passadas, e a precariedade da rede de saneamento — uma vez que, em muitos bairros, sequer há sistema de esgoto concluído. Sem essa etapa essencial, a pavimentação não pode ser realizada, criando um ciclo de atraso difícil de romper sem investimento externo robusto.
Nos últimos anos, a Prefeitura de Bagé tem enfrentado o déficit de infraestrutura com responsabilidade, adotando uma diretriz clara: nenhuma obra de asfaltamento ou calçamento é realizada sem a implantação prévia da rede de saneamento básico no local. Embora existam projetos com recursos já assegurados para pavimentação — que poderiam impactar positivamente os indicadores apontados no estudo —, essa exigência tem como objetivo evitar desperdícios de recursos públicos, retrabalhos e danos estruturais, como a quebra do pavimento recém-executado para a instalação de tubulações.
A gestão passada chegou a autorizar alguns asfaltamentos sem saneamento básico, e que foram pausadas pela atual gestão, como no bairro Castro Alves, onde via financiamento federal, está sendo feita as etapas de saneamento.
Projetos de financiamento, como o Asfalto da Zona Leste, viabilizado em 2012, permitiram a pavimentação de um bairro inteiro (Dois Irmãos), e seguem e andamento, embora o projeto tenha sido reduzido e prejudicado pela falta de saneamento em bairros como Santa Flora, Pedra Branca e Ipiranga.
Mais recentemente, ações nos bairros Popular, Passo das Pedras, Castro Alves e Ivo Ferronato (este último com estudos em andamento) tem sido desenvolvidas, assim como a retomada da Usina de Asfalto do município, que dará mais capacidade de produção de material.
A Prefeitura segue trabalhando com seriedade e responsabilidade para avançar na infraestrutura urbana, com foco especial em garantir que os investimentos em calçamento estejam atrelados a soluções definitivas de saneamento."