As duas gaúchas que estão há meses "morando" em um McDonald's no bairro do Leblon, zona sul do Rio de Janeiro, foram alvo de ações judiciais de despejo, por falta de pagamento, em imóveis que ocuparam anteriormente. A reportagem da rádio CBN, que acompanhou a rotina das duas por vários dias, confirmou que elas são Bruna Muratori Geremia, de 31 anos, e Susane Paula Muratori Geremia, de 64. A apuração da emissora carioca afirma que elas deixaram de pagar proprietários de imóveis e hotéis do Rio de Janeiro.
Um processo judicial indica que elas também enfrentaram problemas com moradia no Rio Grande do Sul. Bruna, que é natural de Porto Alegre, foi alvo de uma ação de despejo em um apartamento localizado na Avenida Nilo Peçanha. Ela não fez o pagamento dos aluguéis entre agosto e novembro de 2015, acumulando uma dívida de R$ 14.265,78. A sentença, determinando que ela deixasse o imóvel e pagasse o valor devido, é de 17 de fevereiro de 2017. O contrato de locação havia sido firmado em maio de 2013.
A advogada Luciane Lopes Silveira, do escritório Silveira & Vargas Sociedade de Advogados, que representou a proprietária do imóvel na ação, afirmou à reportagem de GZH que mãe e filha saíram do apartamento voluntariamente, entregando as chaves. A reportagem não conseguiu identificar o responsável pela defesa de Bruna neste processo.
Essa não foi a primeira vez que a locação do imóvel gerou atrito. Em 2015, Bruna chegou a ser acionada na Justiça em razão do reconhecimento de atraso no aluguel do mesmo local, porém, a quantia foi quitada no curso do processo (estavam em débito os valores de dezembro de 2013 e de janeiro, fevereiro e março de 2015, totalizando R$ 6.870,57). GZH procurou o advogado que representou Bruna neste processo, mas ele preferiu não se manifestar.
No Rio de Janeiro, há pelo menos uma ação de despejo em que os nomes delas constam como rés. GZH teve acesso a um processo, iniciado em julho de 2019, no qual mãe e filha foram condenadas. Foi determinado o despejo do apartamento localizado em Copacabana, o que já foi cumprido, além do pagamento de R$ 133.336,79, referente a valores dos aluguéis atrasados atualizados com juros e correção monetária em janeiro deste ano. A dívida segue em aberto.
O processo era uma ação de despejo e de cobrança de aluguéis. As mulheres foram condenadas em primeira instância, recorreram, e o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (segunda instância) negou provimento ao recurso. O prazo para recurso transcorreu em branco, e o processo transitou em julgado. Depois da condenação, o credor entrou com execução com o objetivo de penhorar bens de Susane e Bruna para pagar a dívida reconhecida na sentença.
Em 2020, com o objetivo de se eximir do pagamento de custas processuais e honorários, as duas alegaram à Justiça que estavam desempregadas e não tinham dinheiro, justificando que "a movimentação financeira da conta corrente corresponde à ajuda financeira de familiares" e que recebiam auxílio emergencial do governo — valor pago em razão da pandemia de covid-19. Todavia, o pedido foi negado pela primeira instância. Em seguida, elas recorreram à decisão e conseguiram, em segunda instância, a concessão da Assistência Judiciária Gratuita (AJG). Ainda assim, seguem cobradas pelo valor principal dos aluguéis.
De acordo com fontes ouvidas por GZH, mas que preferiram não ser identificadas, o pai de Bruna e ex-marido de Susane mora no Exterior e auxilia financeiramente as duas. Em fevereiro deste ano, a Justiça determinou que elas fossem incluídas como devedoras no cadastro do Serasa.
Vida no McDonald's
Susane e Bruna disseram à reportagem da CBN que vivem no Rio de Janeiro há anos e que estão procurando apartamento para alugar no Leblon, mas pretendem pagar no máximo R$ 1,2 mil — o que não coincide com o valor do metro quadrado da região.
Embora estejam sem lugar para morar, elas têm dinheiro. Fazem refeições no próprio McDonald's e em estabelecimentos próximos, e pagam pelos alimentos. As duas têm celulares, carregam ao menos cinco malas e vestem roupas limpas.
A loja em que estão morando funciona 19 horas por dia, inclusive durante a madrugada — fecha às 5h e reabre às 10h. Quando as portas são fechadas, elas sentam na calçada e aguardam a reabertura. Conforme afirmou o repórter da CBN Pedro Bohnenberger ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha, Bruna e Susane seguiam no restaurante na manhã desta segunda-feira (29).
Veja a entrevista: