Com um minuto de silêncio em homenagem às vítimas de Brumadinho (MG) e entrada gratuita, depois de duas semanas fechado, o Instituto Inhotim reabriu neste sábado (9), segundo sua direção, com a missão de mostrar que a cidade não está completamente embaixo da lama e continua viva.
— A imagem que se tem é de que a cidade inteira está submersa. Mostrar que isso não é verdade não é nenhum prodígio, mas é uma primeira tarefa que a gente pretende cumprir ao dizer às pessoas que o Inhotim está funcionando — diz Antônio Grassi, 64, diretor-executivo do órgão e ator.
O museu de arte contemporânea a céu aberto, um dos maiores do mundo, fica a cerca de 18 quilômetros da área atingida pelos rejeitos da barragem da Vale e foi evacuado às pressas no dia do rompimento.
O caminho entre o museu e o aeroporto de Confins e Belo Horizonte não foi atingido.
Grande parte dos 600 funcionários do Inhotim (como comparação, a Vale tem cerca de 300 na mesma região) moram em Brumadinho e 41 têm familiares desaparecidos ou mortos na tragédia. Um ex-funcionário também está entre os 157 mortos e 182 não encontrados até sexta (8).
Para Grassi, o instituto terá que se conectar mais com o local em que está inserido:
— O nosso papel também vai exigir um novo Inhotim, que deve estar mais plugado com o lugar e sua necessidade de reconstrução.
Aberto em 2006, o museu pertence ao empresário Bernardo Paz, que fez fortuna explorando a mineração de ferro. Ele era dono da Itaminas, vendida em 2010 a um grupo chinês por US$ 1,2 bilhão em valores da época. Muitas das obras expostas no Inhotim – são 700 – tratam da relação predatória das mineradoras.
A chegada do instituto dinamizou a economia local. Segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a quantidade de leitos em hotéis passou de 300, em 2008, para 1.300, em 2016.
Entre 2011 e 2014, o número de restaurantes e bares cresceu de 56 para 99 e o de mercados, de quatro para 28, segundo a prefeitura de Brumadinho. Agora, a expectativa é de que o público caia e demore alguns meses para se recuperar.
Nas duas últimas semanas, Grassi estima que o local tenha deixado de receber cerca de 20 mil visitantes.
— A gente provavelmente vai demorar para mostrar que ali dentro não tem problema, não tem lama e tem como chegar — diz.
O Corpo de Bombeiros de MG confirmou que o museu não está na rota de risco de outras barragens.
— A decisão de reabrir não foi simples. Ao mesmo tempo em que temos a plena certeza de que Inhotim tem a possibilidade de trazer um respiro para Brumadinho, temos a conexão com o luto daquele lugar — ressaltou Grassi.
Neste primeiro dia, a entrada será gratuita, como acontece às quartas (exceto feriados). O horário nos finais de semana vai das 9h30min às 17h30min, e durante a semana, até as 16h30min, com entrada de R$ 44.