Nos 13 anos de governo do PT, poucas pessoas desfrutaram da confiança irrestrita da ex-presidente Dilma Rousseff como o ex-assessor especial Anderson Braga Dorneles. Delatado por cinco executivos da Odebrecht, inclusive o ex-presidente e herdeiro da empresa, Marcelo Odebrecht, Dorneles é suspeito de receber propina para atuar como mensageiro do grupo junto à petista.
De acordo com a Procuradoria-Geral da República, o gaúcho teria recebido R$ 350 mil entre 2013 e 2014. Seriam sete parcelas mensais de R$ 50 mil cada, operacionadas pelo Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, o departamento de propina da empreiteira (clique aqui para acessar a íntegra do documento em que o delator lista os pagamentos). Além de Marcelo, o relato sobre os pagamentos foi feito aos procuradores da Lava-Jato por Cláudio Melo Filho, João Carlos Mariz Nogueira, José Carvalho Filho e Hilberto Mascarenhas, todos integrantes da cúpula da empresa.
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Marcelo e os demais delatores contaram que a propina era paga para que Dorneles repassasse a Dilma informações de interesse da Odebrecht, incluindo notas técnicas sobre a atuação da empresa nos países para os quais a então presidente iria viajar.
- É certo que manter um bom canal com Anderson Dorneles era importante, pois facilitava minha comunicação, inclusive pelo envio de e-mails e notas à presidente - disse Marcelo Odebrecht.
Para comprovar os pagamentos, os delatores entregaram e-mails enviados por Marcelo a Dorneles, registros da entrada de dois de seus prepostos - Fábio veras e Douglas Rodrigues - na sede da Odebrecht em Brasília, além das planilhas do sistema de propinas da empresa que contabilizava os repasses.
Como Dorneles não tem prerrogativa de foro, o relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal, ministro Edson Fachin, determinou a remessa do caso à Justiça Federal de Brasília, onde os supostos ilícitos teriam sido cometidos. A apuração dos fatos ficará a cargo da Procuradoria da República no Distrito Federal, que decidirá se pede abertura de inquérito contra o ex-assessor presidencial.
Por telefone, Dorneles se resumiu a dizer que as suspeitas contra ele "não fazem o menor sentido". Em nota enviada a ZH, pouco depois, ele afirma que "a respeito das informações divulgadas pela imprensa relativas à delação da empresa Odebrechtas quais fui citado, declaro que desconheço o teor total das declarações, mas já posso afirmar que nunca solicitei ou recebi qualquer ajuda financeira de quem quer que seja. Tampouco autorizei terceiro que o fizesse em meu nome."
Nas planilhas da Odebrecht, Dorneles aparecia com o codinome "Las Vegas". No depoimento prestado à força-tarefa, Cláudio disse ter conhecido o assessor de Dilma em 2012, apresentado pelo próprio Marcelo Odebrecht. "Posteriormente à reunião, Marcelo me comunicou que recebeu um pedido de apoio financeiro a Anderson, autorizando que se realizassem pagamentos de R$ 50 mil em seu benefício", relatou o executivo.
Para comprovar os pagamentos, ele apresentou cópia do e-mail de Marcelo Odebrecht e uma tabela com as datas dos pagamentos. Eles teriam ocorrido em 14 de outubro, 11 de novembro e 9 de dezembro de 2013, sendo retomados em 7 de abril, 5 de maio, 2 de junho e 7 de julho de 2014, sempre no valor de R$ 50 mil.
Dorneles deixou o cargo no Palácio do Planalto em fevereiro de 2016, logo após vir à tona a revelação de que é um dos sócios do Red Bar, um bar localizado no estádio Beira-Rio. O estádio foi reformado pela Andrade Gutierrez, depois de uma pressão direta de Dilma para que a construtora assumisse a obra.
Dorneles trabalhou com Dilma por 23 anos.
Ele conheceu a ex-presidente em 1993, quando foi trabalhar de office-boy na Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul (FEE), presidida por Dilma no governo Alceu Collares (1991-1994). Nunca mais se separaram. Em todos os cargos públicos que ela ocupou desde então, Dornelles era seu principal assessor. Não tomava decisões, tampouco ocupava cargos estratégicos, mas cuidava da agenda fazia compras pessoais e sempre carregava os óculos, o tablet e a bolsa da petista. Em Brasília, jornalistas, políticos, empresários e lobistas sabiam que era ele o interlocutor mais próximo da presidente.