Há mais ou menos dois meses, proprietários da pastelaria Pastelão, em Santa Maria, entraram em contato com um grupo de pessoas surdas com o interesse em treinar o quadro de funcionários para atender clientes com essa limitação. O resultado pode ser visto no dia 7 de dezembro, quando foi lançado, oficialmente, o primeiro cardápio em Língua Brasileira de Sinais (Libras) da história do município.
Também há um cardápio online onde, em vídeo, uma intérprete comunica, em Libras, o produto. O estabelecimento também conta com dois tablets, onde é possível clicar no produto, e o software diz o que vai nele.
Uma das pessoas que treinou a equipe foi a estudante de Educação Especial Luana Machado Agne, 25 anos. O Diário teve ajuda da intérprete de Libras Raquel Pereira Job para conversar com Luana, que contou sobre como foi ter sido atendida por alguém que soube se comunicar na sua língua.
– Foi muito bom. Eu fiquei muito emocionada – conta.
Pode soar estranho para a comunidade ouvinte alguém dizer que esse ato foi "emocionante", mas quem é surdo enfrenta dificuldade de se expressar em qualquer estabelecimento comercial, então encontrar alguém que se comunique com ela sem nenhum ruído é, sim, muito gratificante.
O estudante de Educação Física da UFSM, Igor Mazzuani, 18, diz que ainda dá sorte quando está junto dos familiares, que – em um restaurante, por exemplo – mediam a comunicação. No entanto, quando está sozinho, chega a ser constrangedor.
– É bastante difícil. Eu ainda escrevo, mas já aconteceu de não entenderem, de fazerem piada, de darem risada. Santa Maria não está preparada (para prestar um bom atendimento para quem enfrenta alguma limitação) – conta.
A iniciativa foi tomada por uma funcionária do Pastelão, que cursa Educação Especial na UFSM. Foi por meio dela que a gerência recebeu a proposta e resolveu investir.
– Nós sempre recebemos vários clientes surdos. Depois que Adriana começou a trabalhar com a gente, e vimos que eles ficavam muito mais à vontade ao serem atendidos por alguém que conseguia entender eles, veio a pergunta: Por que a gente não faz um curso? – conta Aline de Oliveira Rodrigues, gerente de atendimento do Pastelão há 14 anos.
Aline entrou em contato com os proprietários do restaurante, que toparam a proposta e as aulas foram agendadas.
– É uma barreira que a gente precisa superar. Custa muito pouco e significa um monte para eles. Também para gente, que busca a satisfação do cliente. Espero que outros locais também tomem essa iniciativa – conta Aline.
Tanto Luana quanto Igor são monitores na Escola Estadual de Educação Especial Doutor Reinaldo Coser. É possível buscar com a instituição uma forma de viabilizar cursos básicos para que o quadro funcional de um estabelecimento, por exemplo, receba o treinamento. O telefone para contato é este: (55) 3211-4774.