Chamado carinhosamente de "menino" pela ex-presidente Dilma Rousseff, o ex-assessor especial Anderson Dorneles é a pessoa mais próxima da petista a aparecer nas delações premiadas de executivos da Odebrecht. Segundo o ex-diretor de Relações Institucionais da empreiteira Cláudio Melo Filho, ele recebeu R$ 350 mil em sete pagamentos, entre 2013 e 2014.
Zero Hora entrou em contato telefônico com Dorneles na manhã desta segunda-feira, mas o ex-auxiliar de Dilma não quis conceder entrevista. Em nota oficial, enviada ao jornal, disse: "Nunca estive em reunião na sede da Odebrecht, nunca solicitei ou recebi qualquer ajuda financeira, nem tão pouco autorizei terceiro que o fizesse em meu nome".
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Atualmente com 36 anos, Dornelles tinha 13 anos quando conheceu Dilma. À época, ela presidia a Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul (FEE) no governo Alceu Collares (1991-1994) e o rapaz chegou para trabalhar como office-boy. Aos poucos, Dorneles conquistou a confiança da chefe, a ponto de não se separarem mais. Em todos os cargos públicos que Dilma ocupou desde então, lá estava Dornelles como principal assessor pessoal. Não tomava decisões, tampouco ocupava cargos técnicos ou estratégicos. Era uma espécie de "faz tudo".
Fosse nos ministérios das Minas e Energia ou na Casa Civil, até a Presidência da República, por onde Dilma passou Dornelles estava ao seu lado. Carregava os óculos, o tablet e a bolsa da presidente, fazia compras pessoais, atendia o celular, filtrava recados e pedidos de agenda. Em Brasília, jornalistas, políticos, empresários e lobistas sabiam que era ele o interlocutor mais próximo da presidente.
Por conta dessa relação, funcionava como uma espécie de porta-giratória do gabinete presidencial. Podia-se chegar até ele e voltar para o local de origem, sem avançar um milímetro em direção à presidente, ou receber a graça de seguir adiante. Não tinha poder, mas acesso rápido e irrestrito à petista - o que para muitos poderosos era o mais fundamental. Sua sala, no terceiro andar do Palácio do Planalto, antes dele abrigava ninguém menos do que a primeira-dama, Marisa Letícia, o que fez surgir nos corredores o apelido de "primeiro-filho" de Dilma.
Tamanha proximidade não evitava transtornos. Na rotina do palácio, Dorneles não era poupado dos arroubos coléricos de Dilma. Por mais de uma vez, pediu demissão, sendo logo convencido pela própria presidente a voltar atrás na decisão. Apesar dos transtornos e da jornada espartana de trabalho, sabia muito bem se valer das relações criadas na atmosfera do poder.
Em 2012, pulou o Carnaval no camarote do empresário Luís Eduardo Magalhães Filho, neto do ex-senador Antonio Carlos Magalhães. Em março de 2016, casou-se em uma cerimônia luxuosa no Hotel & Spa do Vinho, em Bento Gonçalves, e viajou em lua-de-mel por Dubai, Abu Dhabi e Ilhas Maldivas.
Torcedor do Internacional, Dornelles se envolveu em uma polêmica com o clube pouco antes de pedir exoneração do Planalto. Sua demissão teria sido precipitada pela revelação de que é um dos sócios do Red Bar, um bar localizado no estádio Beira-Rio. A reforma do estádio para a Copa do Mundo foi realizada pela Andrade Gutierrez depois de uma pressão direta de Dilma para que a construtora assumisse a obra.
Em março, um mês após a exoneração, investigadores da Lava-Jato diziam que a citação a um certo "Las Vegas", em uma planilha apreendida da Odebrecht, fazia referência a Dorneles. O documento informava que "Las Vegas" tinha recebido R$ 50 mil da empreiteira no hotel Mercury, em Brasília.
Agora, Cláudio Melo Filho certifica que Las Vegas era mesmo Dorneles e afirma que, no total, ele teria recebido R$ 350 mil, em sete parcelas de R$ 50 mil. O executivo diz ter conhecido o assessor de Dilma em 2012, apresentado pelo presidente da empresa, Marcelo Odebrecht. "Posteriormente à reunião, Marcelo me comunicou que recebeu um pedido de apoio financeiro a Anderson, autorizando que se realizassem pagamentos de R$ 50 mil em seu benefício", relatou Melo Filho na delação.
Como suposta prova dos pagamentos, o executivo apresentou cópia do e-mail de Marcelo Odebrecht e uma tabela com as datas dos pagamentos. Eles teriam ocorrido em 14 de outubro, 11 de novembro e 9 de dezembro de 2013, sendo retomados em 7 de abril, 5 de maio, 2 de junho e 7 de julho de 2014, sempre no valor de R$ 50 mil.
Melo Filho diz que "estiveram na empresa em Brasília em diferentes momentos para tratar com José Filho sobre os recebimentos acordados com Anderson Dornelles duas pessoas: Fabio Veras e Douglas Rodrigues." O executivo lista ainda registros mostrando que Douglas Rodrigues teria estado no escritório da Odebrecht em Brasília em três datas: 11 de fevereiro de 2015, 24 de fevereiro de 2015 e 12 de maio de 2015.
Leia abaixo a nota oficial enviada por Anderson Dorneles:
Nota de esclarecimento:
A respeito das informações divulgadas pela imprensa relativas à delação do Sr. Claudio Mello Filho, as quais fui citado, informo que nunca estive em reunião na sede da Odebrecht, nunca solicitei ou recebi qualquer ajuda financeira, nem tão pouco autorizei terceiro que o fizesse em meu nome. Informo também que, em minhas funções, nunca fui responsável pela agenda da ex-presidente da República Dilma Rousseff.
Atenciosamente,
Anderson Dorneles