O episódio que ficou conhecido no país como "farra das passagens" – ressuscitado com a denúncia do Ministério Público Federal contra 443 ex-deputados por uso indevido de dinheiro público –, ganhou as manchetes nacionais em abril de 2009, a partir de levantamento divulgado no site Congresso em Foco.
De acordo com o levantamento, gabinetes de deputados federais autorizaram a liberação de passagens aéreas que não foram usadas pelos parlamentares, entre os anos de 2007 e 2008. Parte delas teria sido utilizada por filhos, netos, mulheres e assessores dos políticos e parte por pessoas que adquiriram bilhetes em agências de viagem de Brasília.
Naquele período, a Câmara dos Deputados financiou 1.885 voos internacionais, ao custo total de R$ 4,7 milhões, em valores da época – aproximadamente R$ 3 milhões nas passagens emitidas e R$ 1,7 milhão com taxas de embarque. Só na bancada gaúcha, pelo menos 20 deputados autorizaram a liberação de 118 bilhetes com destino a outros países, sendo que, em apenas 19 ocasiões, os próprios políticos foram beneficiados com as viagens. Nos demais casos, as passagens acabaram nas mãos de terceiros.
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Na época, alguns deputados reagiram com indignação, entre eles Vieira da Cunha (PDT), que teve um assessor afastado do cargo por suspeita de envolvimento.
– Pedi explicações, e ele não foi convincente. Não quero prejulgá-lo, mas há indícios de que ele tinha conhecimento do esquema – disse Vieira, na ocasião.
Em reportagens especiais, ZH revelou histórias de pessoas que compraram tíquetes com operadoras brasilienses e foram surpreendidas ao aparecer nas listas de beneficiados, alegando não ter relação com os políticos citados.
Os indícios do comércio ilegal explodiram depois que o presidente do Supremo Tribunal Federal à época, ministro Gilmar Mendes, surgiu em uma dessas listas, ligada ao gabinete do deputado Paulo Roberto (PTB). Mendes e a mulher, Guiomar, viajaram a Nova York (Estados Unidos) e a Fortaleza (Ceará) na cota do parlamentar, mas apresentaram provas de que as passagens foram pagas com cartão de crédito e milhagens.
Indignado, o magistrado solicitou a abertura de inquérito sobre o caso à Procuradoria-Geral da República e exigiu explicações do então presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP). A partir daí, o esquema passou a ser investigado, culminando, sete anos depois, na denúncia apresentada pela Procuradoria da República na 1ª Região na última sexta-feira.