Com as obras de duplicação paradas há quase dois anos – a data fecha no mês que começa na terça-feira que vem –, a ERS-118, uma das vias mais importantes da Região Metropolitana, virou mais do que uma rodovia perigosa, mal sinalizada e congestionada.
A obra de ampliação de 21,3km da via – que contemplaria os municípios de Sapucaia do Sul, Esteio, Cachoeirinha e Gravataí –, iniciada em 2006 e com R$ 65,9 milhões investidos, parou deixando consequências graves para quem tem sua vida relacionada ao movimento da estrada.
Leia mais:
"Estava preocupado com o movimento", diz avô de menina morta em colisão na ERS-118
Obras na ERS-118 desafiam os motoristas
ERS-118 é uma via repleta de armadilhas
Embora tenha recomeçado a fazer dois viadutos com obras já iniciadas – um sobre a Avenida Itacolomi, em Gravataí, e outro sobre a Avenida Marechal Rondon, divida entre Cachoeirinha e Gravataí –, a Secretaria dos Transportes do Estado não dá previsão de recomeço de duplicação da rodovia.
Há tempos, o péssimo estado de conservação tem deixado até mecânicas, postos de molas e borracharias às moscas. Ao percorrer o trecho mais movimentado da via, entre Sapucaia do Sul e Gravataí, o Diário Gaúcho consultou estabelecimentos sobre as influências da interrupção das obras. A maioria se queixa de queda no movimento de veículos que fogem da estrada mal conservada.
Leia mais notícias do dia
– Quem passa aqui a primeira vez, não passa mais. O movimento está muito ruim, o pessoal não chega mais. É ruim para chegar aqui, tem muito barro, não tem alça lateral – reclama José Alberto Alencastro Alvarenga, 49 anos, dono de uma borracharia que fica em frente a casa em que mora com a família no km 15 da ERS-118, em Gravataí.
Sem poder contar com o fluxo de veículos da ERS-118, José consegue manter o negócio graças aos clientes antigos que vem de regiões da cidade que não passam pela rodovia. Isso porque, garante ele, não dá mais para depender da demanda da 118.
Próximo dali, o Diário Gaúcho encontrou sete funcionários de outra borracharia tomando chimarrão, também sem serviço. Secretária do estabelecimento que existe há seis anos, Taís Silveira da Silva, 24 anos, admite que, se fosse depender apenas dos veículos estragados que passam na ERS-118, a borracharia já teria fechado as portas.
Tanto pelo fluxo de carros e caminhões na estrada, que, segundo eles, já foi bem maior, quanto pela dificuldade de veículos pararem nas borracharias que estão na beira da estrada. O que salva o negócio e mantém o emprego dos sete funcionários são as empresas que já têm contrato com a borracharia.
– Cliente novo é raro, nem entram aqui porque é ruim de parar e para fazer o retorno, tem que fazer uma volta muito grande – diz Taís.
Os próprios funcionários estragam seus veículos só de irem até a oficina. Em quatro anos, Taís precisou trocar a suspensão do seu carro quatro vezes. Se a obra estivesse andando ou a rodovia mais duplicada, o cenário seria outro.
– Aí não iríamos parar de trabalhar, isso aqui ia estar sempre cheio – aposta o gerente Celso Luisa da Silva, 48 anos.
"A 118 está impraticável"
Se a interrupção das obras e a queda no fluxo de veículos devido à má conservação da estrada já causa prejuízo para quem trabalha com conserto de carros e caminhões, os demais estabelecimentos sofrem ainda mais.
Gerente de um restaurante às margens da ERS-118, em Gravataí, Ivar Antônio Severo, 53 anos, demitiu, nos últimos dois anos, mais da metade dos 20 funcionários que tinha.
Líder dos comerciantes que tem estabelecimentos nas margens da rodovia, ele viu o movimento do seu restaurante minguar desde que a obra parou. Os 200 almoços servidos por dia caíram para 50 – em alguns dias, nem chega a isso. Atualmente, tem apenas seis funcionários – todos da sua família.
A clientela despencou mesmo não havendo alteração do preço do bufê livre há mais de um ano.
– A maioria dos meus clientes são trabalhadores que hoje não conseguem nem chegar, os caminhões não encostam mais aqui para comer. A comida é boa, caseira, mas mal dá para estacionar ali na frente – lamenta-se ele, que admite que não vê futuro para o negócio se nada mudar.
Todos perdem com a paralisação da obra em um prejuízo ainda incalculável na avaliação do presidente da Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Gravataí (Acigra), Regis Albino Marques Gomes. Os desvios que seriam provisórios mas já se tornaram permanentes também são mal sinalizados e pegam de surpresa principalmente quem passa pela via pela primeira vez.
– É horrível para todo mundo, não só para quem é desta região. O pessoal foge da ERS-118. Quem sai de Gravataí para o Vale dos Sinos prefere pagar pedágio e ir pela freeway (BR-290). A 118 está impraticável – afirma Regis.
Obra será feita com dinheiro público, mas não há previsão
A possibilidade de incluir a ERS-118 no programa de concessão de rodovias, apontada no ano passado pelo Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) como uma possibilidade de fazer a obra andar, é atualmente descartada pela Secretaria de Transportes.
O diretor-Geral da Secretaria dos Transportes, Vicente Britto, afirma que nunca teve um estudo para conceder a ERS-118. Segundo ele, o setor privado enviou uma proposta que não foi considerada pelo governo do Estado. Ele ressalta que a obra será feita com dinheiro público, mas não especifica data de recomeço ou conclusão dos trabalhos:
– A ERS-118 é uma obra pública e será feita com recursos do próprio Estado. Está em estudo a viabilização de financiamento das obras pelo setor público. Começamos dois viadutos que são obras já iniciadas e consideramos importante concluir.
O Estado abriu uma licitação para contratar uma empresa que irá fazer mudanças, demolição, remoção, guarda temporária de objetos e descarte de entulhos das áreas atingidas pela duplicação da rodovia.