A Procuradoria-Geral do Município (PGM) de Porto Alegre vai recorrer nesta segunda-feira da decisão da Justiça que negou a liminar de reintegração de posse do prédio do Departamento Municipal de Habitação (Demhab), no Bairro Santana, em Porto Alegre, solicitada pelo órgão. Desde o dia 14, cerca de 80 integrantes dos movimentos dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) e da População de Rua (MNPR) ocupam o saguão, onde funciona a área administrativa do Demhab. Eles exigem a negociação de uma pauta com pedidos relacionados à habitação na Capital.
Nesta segunda-feira, os funcionários públicos que trabalham no prédio decidiram suspender por completo as atividades até que o prédio seja desocupado. Os servidores encaminharam um documento ao prefeito José Fortunatti explicando a decisão.
No pedido da reintegração de posse, o Demhab argumentou que a ocupação estaria prejudicando o trabalho no prédio e que o atendimento às exigências dos movimentos deve seguir a política pública habitacional. Desde 2009, 52 mil famílias aguardam na fila pela entrega de moradias. O órgão afirma que só conversará com os manifestantes se eles deixarem o prédio
Leia mais
Crianças da Vila Dique percorrem 20km para irem a escola que fica a 2km de casa
Vila Dique: 300 famílias seguem morando em trecho interditado
Famílias da Vila Dique em Porto Alegre pedem melhorias no local
Confira todas as notícias do dia
Decisão
No despacho, liberado na sexta-feira passada, a juíza Karla Aveline de Oliveira, da 5ª Vara da Fazenda Pública de Porto Alegre, considerou, para decidir, o caráter democrático e reivindicatório da manifestação e, amparada pelo que viu em inspeção ao prédio na quarta-feira passada, disse que há segurança e plenas condições de acesso e circulação aos servidores para realizarem suas funções, inclusive, o atendimento ao público.
A juíza entende que a ação de reintegração de posse "apresenta um falso problema", pois não vê indícios de que os movimentos pretendam apropriar-se do bem público, "razão pela qual, em princípio, não há proteção possessória a ser analisada". Ela observou que não se trata de "reconhecer sempre a justeza dessas condutas (ocupação), mas de reinterpretá-las e contextualizá-las", destacando que a ação em análise "situa-se no campo dos direitos de cidadania" e está justificada pelo debate que pretende levantar sobre a questão da moradia. "Consubstanciando-se a ocupação do DEMHAB em ato de resistência, em uma ação de coletiva e organizada que visa a efetivar direitos fundamentais ao mesmo tempo em que combate e se opõe à forma de condução municipal da questão da moradia urbana", argumentou.
Serviços
Segundo a magistrada, apesar do portão principal estar sob controle dos ocupantes, onde são atendidos os que acorrem ao local, "todas as demais dependências do andar térreo, assim como todos os demais andares, apresentam plenas e integrais condições de trabalho". Sobre o acesso de servidores do órgão aos ambientes, garantiu ser "amplo e irrestrito".
Exigências dos movimentos
* Vila Dique: não demolição das casas de alvenaria das famílias que estão se transferindo para o condomínio Porto Novo, no Porto Seco. Pelo menos 140 famílias querem e serão transferidas para o novo residencial. A exigência do movimento é que parte das 160 famílias remanescentes na comunidade assuma estas casas até que seja definido o destino delas.
* Ocupação Progresso: as 93 famílias da ocupação localizada na Zona Norte exigem a realização de estudo do solo e pagamento de aluguel social até que seja tomada uma decisão sobre a área ocupada há três anos.
* Terreno do Morro Santana: ocupado no ano passado pelo MTST, é de interesse para destinação a moradias populares.
* População de rua: regularização do pagamento dos alugueis sociais.
* Terrenos ociosos: divulgação da lista por parte da prefeitura Porto Alegre.
Moradia
Demhab suspende atendimentos ao público no prédio ocupado
Ocupação completou 11 dias nesta segunda-feira. Na semana passada, juíza da 5ª Vara da Fazenda Pública de Porto Alegre negou liminar que solicitava saída dos manifestantes
GZH faz parte do The Trust Project