O arquiteto Ricardo Paz, 57 anos, vestiu um velho macacão da Petrobras, empunhou a mangueira de uma lavadora de alta pressão e se dirigiu, no começo da tarde deste domingo, ao Parque Moinhos de Vento, em Porto Alegre. O macacão era uma denúncia à corrupção na estatal petrolífera. A mangueira, sinal de apoio à Operação Lava-Jato.
– O negócio é limpeza – defendeu.
Paz se destacava em meio ao aglomerado de manifestantes vestidos de verde e amarelo, muitos deles com bandeiras do Brasil, que tomaram a Avenida Goethe para protestar contra o PT, contra Dilma Rousseff e contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Eles querem a confirmação do impeachment, a prisão de Lula e o bloqueio de qualquer tentativa de "acordão" para salvar políticos corruptos. Segundo os organizadores, o ato teria reunido 5 mil pessoas.
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Se Lula e Dilma eram alvo de repulsa, o juiz Sergio Moro, nome proeminente da Lava-Jato, apareceu como grande herói. A aposentada Beatriz Moraes da Silva, 60 anos, resumiu esses afetos e ódios por meio de uma espécie de instalação que tomou uma noite inteira de trabalho do seu marido. Ela segurava um cabo que tinha, em uma plataforma ao alto, um boneco do juiz de Curitiba, identificado como "caça-corruptos".
Enquanto isso, ao lado, a amiga Maria Cristina Moraes Machado, 54 anos, ostentava uma armação ainda maior, com um cela cilíndrica no topo, onde apareciam aprisionados bonecos de Dilma e de Lula, sob os dizeres "suíte presidencial do sítio da Papuda".
– O protesto é para tirar a quadrilha. A Dilma saiu, mas a quadrilha continua lá em cima. O Temer está se saindo muito bem, é o que nos resta. Temos de apoiá-lo – afirmou Beatriz.
Pouco depois das 14h, o caminhão de som dos organizadores interrompeu uma das pistas da Goethe, e os manifestantes tomaram a avenida. Depois, invadiram a outra pista, bloqueando-a também. No final, foram mais de duas horas de interrupção, congestionando o trânsito no entorno.
No alto do caminhão, sucediam-se apresentações musicais e discursos. Uma das presenças mais insólitas foi a de um grupo de monarquistas, que chegou a colocar na lateral do veículo de som uma imensa faixa, com os dizeres "Monarquia Parlamentar/A coroação da democracia!/O Rei fiscalizando os políticos". Entre os vários partidários da causa que circulavam tremulando bandeiras do tempo do Império estava a faxineira Vera Silva, 60 anos, convertida ao monarquismo cerca de dois anos atrás:
– Estão tentando a República desde 1889 e não deu certo. Não resolveu. Sou pela monarquia, principalmente pela moral, pelos bons costumes e pelos valores familiares.