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Na manhã desta quarta-feira, 11 de maio, a direção do Colégio Estadual Coronel Afonso Emílio Massot, na Capital, foi surpreendida pela decisão do grêmio estudantil da instituição de ocupar a escola.
Diferente das ocupações de escolas paulistas, os portões não foram cadeados, os professores permaneceram dentro da escola, e quem optou por ter aulas teve sua vontade respeitada. De acordo com a Secretaria Estadual da Educação (Seduc), esta é a primeira ocupação de uma escola pública em Porto Alegre.
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Além de faixas, cartazes e fotografias pendurados na entrada, os estudantes expuseram reivindicações como a falta de professores – Ciências, Geografia e para o quinto ano do ensino fundamental –, o atraso no repasse do recurso da autonomia financeira – em abril, a escola recebeu apenas o dinheiro referente ao primeiro mês do ano –, além de problemas de estrutura, como sucateamento de mobiliário, e falta de funcionários como monitor e para auxílio na merenda. Até mesmo o parcelamento dos salários dos professores foi levantado como uma das queixas.
– Fizemos um acordo com eles: permitimos o uso de duas salas de aula e, em contrapartida, eles permitiram que quem quiser ter aula que tenha aula – disse a diretora Márcia Mainardi.
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Desde às 7h, as salas 101 e 102, no térreo, estão sendo utilizadas pelos estudantes que apoiaram a ocupação. No turno da manhã, estudam 527 alunos do ensino médio. Destes, a direção estima que entre 60 e 70 estejam participando da manifestação.
Já os organizadores contabilizam a adesão de 120 estudantes – entre 40 e 45 deverão dormir na escola. No turno, alguns professores deram aulas normalmente e outros aproveitaram a oportunidade para debater com os estudantes do movimento.
– Vamos ter o cuidado de que não envolvam os pequenos (340 alunos do ensino fundamental, que estudam à tarde) e não haverá ninguém estranho dentro da escola e nem álcool e drogas. Vou estar de olho – disse a diretora, adiantando que, em caso de vandalismo, a Brigada Militar será chamada.
No final da manhã, a BM esteve na escola e conversou com os estudantes.
– A orientação é que eles não violem o direito dos demais alunos. Vamos observar à distância – informou o sargento Everaldo, do 9ºBPM.
Vice-presidente do grêmio estudantil, Douglas Silveira, 16 anos, aluno do segundo ano do ensino médio, afirma que a ocupação deverá ser mantida até que as reivindicações sejam atendidas pela Seduc.
– Não é um protesto agressivo, não estamos trancando o portão. Os professores estão nessa luta há muito tempo. Está na nossa hora de fazer alguma coisa – disse Douglas, que no turno da tarde deverá se ausentar da escola para fazer seu estágio, mas pretende voltar para pernoitar na escola.
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Outro membro do grêmio, Henrique Malet, 16 anos, do primeiro ano do ensino médio, explica que a primeira sala será destinada às meninas e a segunda, aos meninos. Alimentos, colchões e cobertores já chegaram à escola e deverão ser utilizados durante a ocupação. Durante o dia, haverá atividades com música, teatro, brincadeiras e esportes.
A intenção, segundo Henrique é, juntamente com os pais, elaborar documentos a serem entregues na Seduc comprovando as necessidades da escola que motivaram a ocupação.
– Queremos o apoio da sociedade, dos professores. Por isso, não podemos desrespeitar os outros – explicou Henrique.
O que diz a Seduc
Em nota, a Secretaria Estadual da Educação informou que o secretário em exercício, Luís Alcoba de Freitas, esteve no fim da tarde desta quarta-feira no Colégio Estadual Coronel Afonso Emílio Massot. Ele conversou com alunos e professores do estabelecimento de ensino.
Em relação à pauta de reivindicação do movimento, a nota esclarece que o colégio teve atrasos na eleição de diretor e, consequentemente, na abertura da conta corrente utilizada para o depósito de valores. A situação foi normalizada no dia 5 de abril.
Ainda conforme a nota, no dia 13 de abril o colégio recebeu parte dos recursos da autonomia financeira dos meses de novembro a dezembro. Os valores eram referentes ao custeio de alunos da educação básica. Após a quitação dos salários do funcionalismo na última terça-feira, a Secretaria da Fazenda depositou na quarta-feira os valores da autonomia financeira referentes ao custeio dos estudantes do Ensino Profissional de novembro e dezembro.
A Secretaria da Fazenda (Sefaz) também efetuou o repasse de valores referentes às obras necessárias após o vendaval do mês de janeiro, que o estabelecimento de ensino não havia recebido em função de não ter a conta bancária aberta à época. Os dois repasses totalizam R$ 43 mil, recurso já disponibilizado na conta do colégio.
A nota diz também que a verba referente à autonomia de março será paga nos próximos dias, conforme cronograma estabelecido pela Sefaz. Já os recursos de janeiro e fevereiro também serão pagos na sequência, já que o colégio não possuía conta bancária na época do pagamento efetuado pelo Estado.
Em relação à falta de pessoal, a nota informa que um professor de Ciências já havia sido contratado e começou a trabalhar nesta quarta. A reposição de um professor de Geografia, solicitada pela direção no último dia 5, já foi providenciada e o profissional está em fase de contratação. A reposição de um professor de quinto ano não foi incluída no sistema pela escola, providência que também será tomada em conjunto pela direção e 1ª Coordenadoria Regional de Educação. A questão dos funcionários também será avaliada pela secretaria.