Na esteira da decisão do PMDB de romper com o governo, o Planalto já se prepara para um desembarque em massa dos partidos da base de sustentação no Congresso. Siglas até então aliadas, como PP, PR, PSD e PTB, também planejam se distanciar da presidente Dilma Rousseff. Juntos, os quatro partidos somam 139 deputados, contingente precioso para o governo na tentativa de barrar o impeachment.
Enquanto ainda tentava segurar o PMDB, Dilma foi surpreendida nesta segunda-feira com a postura do PSD, que irá liberar seus 31 deputados no momento em que o relatório da comissão do impeachment for apreciado no plenário da Câmara. A decisão partiu de Gilberto Kassab, que comanda o Ministério das Cidades e é um dos líderes do partido. Estimativas da bancada apontam que pelo menos 70% dos parlamentares da sigla querem a deposição de Dilma. O próprio presidente da comissão do impeachment, deputado Rogério Rosso (PSD-DF), admite em conversas reservadas que não há como reverter a força majoritária dos dissidentes.
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No PP, a situação não é diferente. Os 49 deputados e seis senadores do partido se reúnem nesta quarta-feira para discutir a permanência no governo, mas cada vez é mais forte a tendência de rompimento. Pelo menos 22 deputados e quatro senadores já firmaram posição pelo desembarque, em documento enviado ao presidente da sigla, senador Ciro Nogueira (PP-PI). Nos bastidores, afirmam que o grupo pró-impeachment tem cerca de 30 deputados, já que por enquanto alguns pretendem não firmar posição.
A expectativa é de que, diante da pressão dos dissidentes, Nogueira convoque uma convenção partidária para formalizar a saída do governo federal. O partido controla o Ministério da Integração Nacional, mas o ministro Gilberto Occhi não tem influência sobre a bancada.
– Queremos que a convenção ocorra em breve. Temos cinco deputados na comissão do impeachment e o voto deles tem de ser orientado pela decisão partidária – afirma o deputado Jerônimo Goergen (PP-RS) – o parlamentar é investigado pela Operação Lava-Jato por suspeita de receber recursos desviados da Petrobras.
Nogueira já avisou ao Planalto que a adesão à rebeldia é crescente na sigla. Para evitar a debandada, ele pretende ganhar tempo, confiante de que a atuação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como interlocutor no Congresso seja suficiente para apaziguar os ânimos.
Em cálculo bastante otimista, o senador chegou a citar a possibilidade de entregar 35 votos ao governo. Lula desembarcou nesta segunda-feira em Brasília para tentar estancar a crise, mas a primeira investida, sobre o PMDB, não rendeu resultados.
– Só conseguiremos garantir os 35 votos para o Planalto se for para o governo ganhar. Se for para perder, não conseguimos – ressalva um interlocutor de Nogueira, ressabiado pelo insucesso do ex-presidente.
Com PMDB e PP abandonando o barco, outras siglas menores tendem a acompanhar o movimento. O PR, com 40 deputados, e o PTB, com 19, já discutem abertamente essa possibilidade. A fragilidade política de Dilma, a pressão dos movimentos organizados pró-impeachment e a deterioração do cenário econômico têm inquietado os parlamentares, principalmente diante das cobranças do eleitorado nas ruas.
Um dos artífices do rompimento do PP com o governo, Goergen tem conversado com as demais bancadas na Câmara. Ele afirma que não há uma operação orquestrada na base governista para deixar o PT praticamente sozinho, mas reconhece que a ação do PMDB e do PP exerce forte influência sobre as legendas de menor expressão.
– Um encoraja o outro. Isso vai formando um movimento. Quando PMDB e PP, os dois maiores partidos da Câmara, sinalizam com um rompimento, gera uma convicção de que o governo acabou – avalia o deputado.
*Com agências