O primeiro-ministro em fim de mandato da Eslováquia, Robert Fico, se impôs nas legislativas de sábado, mas terá dificuldade para formar uma coalizão, diante da grande fragmentação do novo Parlamento, segundo resultados quase completos divulgados neste domingo.
Fico, líder do partido social-democrata Smer-SD, baseou sua campanha na rejeição ao acolhimento de migrantes no país, que em julho assumirá por seis meses a presidência rotativa da União Europeia.
No entanto, uma série de greves de professores e enfermeiras deslocou a campanha a outros temas, reduzindo o impacto da questão migratória.
Após o contagem de 99% dos votos, oito partidos, entre eles um de extrema-direita nacionalista, superam a barreira dos 5% necessários para entrar na câmara, e dividem 150 assentos.
O partido Smer-SD terá a princípio 49 assentos (e 28,3% dos votos), distante da confortável maioria de 83 assentos do Parlamento em fim de mandato.
Fico anunciou que começará imediatamente "negociações preliminares" com aliados potenciais para evitar "uma eleição antecipada".
"Provavelmente teremos que trabalhar com vários partidos políticos no Parlamento", disse Fico, reconhecendo que esperava um resultado superior, de cerca de 33%.
Terremoto
"É um terremoto", disse por sua vez Igor Matovic, líder do partido conservador OLANO-NOVA, citado pela agência de imprensa eslovaca TASR.
Para os analistas, pode ser reproduzido o cenário de 2010, quando Fico, no poder desde 2006, ganhou as eleições legislativas, mas não conseguiu formar uma coalizão e terminou na oposição.
O partido social-democrata é seguido pelos liberais do SaS, com 21 assentos, e pelos conservadores do OLANO-NOVA, com 19. Na quarta posição está o partido nacionalista SNS, com 15 deputados.
Por sua vez, a extrema-direita nacionalista Nossa Eslováquia de Marian Kotleba entra pela primeira vez no Parlamento, com 14 assentos. O partido próximo à minoria húngara, Most-Hid, contará a princípio com 11 assentos.
Diante deste panorama, a formação de um novo governo pode levar semanas ou meses, comentou à AFP um analista político, Samuel Abraham.
Segundo outro analista, Abel Ravasz, "Fico precisaria de ao menos dois ou três sócios para formar uma coalizão e um governo. Por outro lado, seria necessária uma aliança de seis partidos do centro e de direita para que a oposição atual possa formar governo".
Por sua vez, a eurodeputada social-democrata Monika Flasikova Benova classificou a entrada da ultradireita no Parlamento como uma grande vergonha para a Eslováquia.
"Será um desastre ter os fascistas no Parlamento, quando a República Eslovaca vai presidir a União Europeia", disse.
Fico competia nestas eleições por seu terceiro mandato. Sua campanha anti-imigrantes parecia em sintonia com parte da sociedade, e em sua rejeição radical aos refugiados foi apoiado por outros dirigentes da Europa oriental: o chefe do partido no poder na Polônia, Jaroslaw Kaczynski, o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, e o presidente tcheco Milos Zeman.
A Eslováquia recorreu inclusive à justiça para denunciar um sistema de divisão de migrantes por quotas, que foi acordado pelos países da UE e que Fico classificou de fiasco.
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