O anúncio da Coreia do Norte de que lançou um foguete de longo alcance, uma ação condenada pela comunidade internacional, gerou uma série de dúvidas.
O que foi lançado exatamente?
A Coreia do Norte afirma ter lançado um foguete espacial equipado com um satélite de observação terrestre. Já a Coreia do Sul diz que se tratou de um míssil de longo alcance.
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O relevante não reside tanto nas características precisas do aparato, mas nas verdadeiras intenções de Pyongyang. Todo foguete espacial utiliza uma dupla tecnologia e tem aplicações potencialmente militares, além das civis.
Washington e seus aliados consideram que a Coreia do Norte realiza esses disparos de foguetes para testar suas capacidades em matéria de mísseis balísticos, com o objetivo de desenvolver um míssil balístico intercontinental capaz de transportar uma carga nuclear até o território americano. Pyongyang assegura que seu programa espacial é puramente científico.
A Coreia do Norte não tem direito a um programa espacial?
Pyongyang reivindica esse direito, mas as sanções decretadas pela ONU em 2006 para limitar seu programa nuclear a proíbem de testar qualquer sistema de mísseis. Para o Conselho de Segurança da ONU, os disparos espaciais violam essa proibição.
O principal país protetor diplomático de Pyongyang, a China, dá razão a ambos os campos, e defende que a Coreia do Norte tem direito a um programa de exploração espacial, mas deve respeitar as resoluções da ONU.
Os norte-coreanos colocaram um satélite em órbita após o primeiro lançamento de sucesso de um foguete, em dezembro de 2012. Mas os especialistas consideram que o aparelho nunca funcionou, o que reafirma as suspeitas daqueles que acreditam que, em vez de uma missão científica, tratava-se de uma operação camuflada.
Quais são as capacidades norte-coreanas em matéria de mísseis?
Em seus discursos mais beligerantes, a Coreia do Norte afirma ser capaz de atacar o território dos Estados Unidos. A maioria dos especialistas a colocam em dúvida e estimam que o país levará anos para adquirir essa capacidade.
Enquanto os lançamentos de foguetes permitiram fazer avançar o programa de mísseis balísticos, Pyongyang não parece dominar a tecnologia de reingresso na atmosfera, necessária para alcançar um território tão distante quanto os Estados Unidos.
Os especialistas não sabem, tampouco, até que ponto os norte-coreanos são capazes de dominar a miniaturização de uma bomba para poder colocá-la em um míssil.
E agora?
Washington e seus aliados querem que sejam adotadas novas sanções pelo Conselho de Segurança. Mas o órgão das Nações Unidas ainda não entrou em um consenso sobre o endurecimento das sanções após o teste nuclear norte-coreano de 6 de janeiro. A China, com direito ao veto, opõe-se a essas tentativas.
As tensões seguramente aumentaram, sobretudo depois que Seul e Washington anunciaram, neste domingo, a abertura das negociações para mobilizar, na Coreia do Sul, um dos sistemas americanos de defesa antimísseis mais avançados.
O que a Coreia do Norte quer?
Pyongyang espera que seu quarto teste nuclear, em janeiro, e seu disparo de foguete, neste domingo, contribuam para incentivar os Estados Unidos a uma mesa de negociações, onde o regime quer obter algumas concessões. A Coreia do Norte já havia anunciado sua intenção de colocar outros satélites em órbita.
Os Estados Unidos descartaram falar com o Norte enquanto não haja um gesto tangível para a desnuclearização. Mas, para alguns, esta política, chamada "paciência estratégica", permitiu a Pyongyang avançar em seu programa.