Em alguns povoados da minoria muçulmana cham, os integrantes do Khmer Vermelho mataram mulheres em massa, às vezes por decapitação, testemunhou nesta quarta-feira em Phnom Penh uma sobrevivente no julgamento por genocídio de dois adjuntos do falecido ex-dirigente cambojano Pol Pot ainda vivos.
Este julgamento, auspiciado pela ONU, se concentra nos genocídios dos vietnamitas e da minoria muçulmana cham, nos casamentos forçados, estupros e outros crimes lançados em vários campos de trabalho e prisões entre 1975 e 1979 no Camboja.
Math Sor, que era apenas uma adolescente no momento dos crimes, relatou a chegada ao seu povoado de funcionários de alto escalão do Khmer Vermelho, que - segundo ela - prenderam em uma casa trinta mulheres amarradas, antes de levar algumas delas.
"Ouvi as mulheres gritando 'por favor, não me estuprem'", contou esta mulher da minoria cham, que perdeu oito membros de sua família, incluindo seus pais e duas irmãs que estavam grávidas, durante o breve, mas brutal regime do Khmer Vermelho.
Posteriormente, viu através de um buraco na parede soldados decapitando mulheres.
Além dos massacres, enumerou as humilhações diárias que os sobreviventes precisavam suportar: obrigação de cortar o cabelo, se vestir com roupas pretas ou comer carne de porco.
Em setembro, outros sobreviventes denunciaram a queima de exemplares do Alcorão e afogamentos coletivos.
Um total de 20.000 vietnamitas e entre 100.000 e 500.000 chams (de um total de 700.000) morreram nas mãos do regime de Pol Pot, que deixou dois milhões de mortos.
O ideólogo do regime, Nuon Chea, de 89 anos, e o chefe de Estado do Kampuhea Democrática, Khieu Samphan, de 84 anos, comparecem desde 2011 aos tribunais pelas atrocidades cometidas ente 1975 e 1979, em nome de uma utopia delirante seguidora do marxismo.
Os dois acusados já foram condenados à prisão perpétua em um primeiro julgamento, e este segundo, que começou em 2014, se concentra nas acusações de genocídio dos vietnamitas e desta minoria muçulmana. O julgamento pode durar até 2016.
Vários dirigentes chave do regime morreram sem ser julgados, incluindo Pol Pot, chamado de "Irmão número 1", falecido em 1998.
* AFP