Sem os braços e com os cabelos sujos, a boneca de sorriso farto e olhos azuis ganhou carinho e atenção da dona de casa Tânia Silva, 65 anos, do Bairro Capão da Cruz, em Sapucaia do Sul. Com a mesma dedicação de Tânia, com quem é casado há 40 anos, o eletricista aposentado Ademar Silva, também com 65, resgatou os latidos e os movimentos de um cãozinho rosa que já não tinha mais serventia ao antigo dono. Há uma década, entre setembro e dezembro, eles se tornam ajudantes do Papai Noel.
É na garagem da casa da família, transformada em oficina natalina, que o casal dedica parte do ano para consertar brinquedos usados que são distribuídos no Natal a crianças carentes da cidade. Animados com o ato solidário do qual fazem parte, eles dividem as tarefas. Enquanto Tânia lava os cabelos das bonecas com shampoo e condicionador, antes de cortar os mais rebeldes, Ademar se desdobra para fazer carros e motos de brinquedo andarem e bichinhos de pelúcia retomarem os movimentos.
Na primeira ação, solicitada por amigos da Associação Unidos Venceremos que fariam as entregas, os dois renovaram 30 peças - entre carrinhos à pilha e bonecas. Hoje, mais de mil passam pelas mãos do casal antes de fazerem a alegria da gurizada.
Tânia
Hábito
"Sempre fiz pequenas ações solidárias no meu bairro. Mas esta nós começamos por acaso, à convite de um grupo de conhecidos que fazia distribuições de presentes para crianças carentes. No primeiro ano foram poucos. Mas nos apaixonamos pela ação. Isso já faz parte da nossa rotina."
Cuidado
"Cuido de cada boneca como se fosse minha. Limpo, lavo e corto os cabelos, faço roupinhas para elas. Nenhuma sai sem calcinha, por exemplo (risos). Coloco até perfume. Mesmo usada, ela é recuperada com todo o carinho. Fico imaginando a felicidade da criança que receber aquele presente."
Rua
"Eu recolho boneca até quando estou caminhando na rua e vejo uma jogada fora. Mesmo pintada de caneta e com o cabelo emaranhado, dou um jeito de recuperá-la."
Ademar
Voluntário
"Fui uma pessoa que trabalhei mais de 30 anos fechado dentro de empresa. Quando me aposentei, descobri no trabalho voluntário uma nova realização pessoal. Tomei gosto pelos consertos. Não tem preço transformar, deixar parecendo novo e presentear uma criança que o pai e a mãe não têm condições financeiras."
Ritmo
"Fazemos os consertos o ano todo. Mas o ritmo acelera entre setembro e dezembro, quando as pessoas lembram de doar para o Natal. Tem dias que vou da manhã até a noite. Os brinquedos que não consigo consertar se transformam em peças reservas para serem usados em outros."
Lição
"Não há uma lição a ser tirada da nossa ação. Só queremos fazer o bem ao próximo. Na verdade, costumo dizer que o meu sonho é, apesar de gostar de fazer isso, não precisar fazer. Nem mais ninguém. Gostaria que todos tivessem condições de dar e de receber um presente no Natal."
Em vídeo, confira a história do casal
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