Quatro pessoas foram presas em flagrante por posse ilegal de arma na manhã desta terça-feira durante a Operação Ju$$ara, do Ministério Público, que desvendou um esquema de extração e produção de palmito da espécie Juçara, nativa da Mata Atlântica e em extinção. Três indústrias receberam interdição parcial.
Os presos foram encontrados em Maquiné, Porto Alegre e Caraá. As indústrias Brehm Três Forquilhas, Conservas Manzan e Serra Azul tiveram suas linhas de produção de palmito interditadas parcialmente - as de outros produtos seguiram funcionando.
Segundo o promotor Alcindo Bastos, um dos coordenadores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), os presos devem responder por crime ambiental, crime contra a saúde pública, sonegação fiscal, associação criminosa, receptação e posse ilegal de armas.
Toneladas de palmito Juçara foram apreendidas na operação, mas ainda não há uma estimativa da quantidade total. Os produtos serão inutilizados, segundo o Ministério Público. Quatro veículos foram apreendidos.
- Conseguimos fazer uma verdadeira varredura em todos os aspectos da lei. Estamos avançando e encontrando cada vez mais fraudes em alimentos - destaca o subprocurador-geral para Assuntos Institucionais, Fabiano Dallazen.
A Operação Ju$$ara contou com o apoio da Brigada Militar, Delegacia do Meio Ambiente da Polícia Civil, Receita Estadual, Secretaria Estadual da Saúde (Centro Estadual de Vigilância em Saúde) e agentes da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam).
Atuação da quadrilha
As investigações apontam que a quadrilha extraía o palmito na Mata Atlântica, em área de proteção ambiental, e também em propriedades privadas invadidas. Os suspeitos cortavam e cozinhavam o produto em acampamentos improvisados, sob péssimas condições de higiene.
O grupo criminoso também atuava no transporte, comercialização e industrialização do produto.
O palmito era envasado nos acampamentos e transportado para fábricas clandestinas, que recebiam os rótulos falsificados. Depois de industrializados, as conservas eram revendidas no comércio atacadista da Região Metropolitana de Porto Alegre, Vale dos Sinos e Serra, que por sua vez revendiam ao comércio varejista, bares, restaurantes e pizzarias, onde os rótulos chegavam como se fossem da espécie Palmeira Real, cuja comercialização é autorizada.
São investigadas as empresas responsáveis pelas marcas Três Forquilhas, JN, Serra Azul e Conservas Manzan. Também foram apontadas nas investigações as marcas Brehm, Conservas Abedeno, GKS Conservas e DaTerra Conservas.
Consumo impróprio pode causar doença grave
De acordo com Paulo Mansan, fiscal sanitário do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (CEVS), a comercialização do produto oriundo dessa extração ilegal oferece graves riscos à saúde humana. O botulismo é uma das doenças causadas pela ingestão de alimentos contaminados, na maioria das vezes em conserva como o palmito. A intoxicação provoca comprometimento progressivo do sistema nervoso e paralisia dos músculos respiratórios. Os sintomas mais frequentes são visão dupla e embaçada, tonturas, prisão de ventre e dificuldade para urinar.
- O que nos preocupa muito é que esse produto é direcionado a empresas licenciadas por nós. Temos de coibir essa situação que está expondo a população a sérios riscos de saúde - diz o fiscal do CEVS.
O CEVS determinou a retirada de todas as marcas de palmito que foram flagradas na Operação Ju$$ara. Fiscais acompanharam a ação e apreenderam os produtos nas indústrias e lojas de atacado que recebiam as conservas ilegais da espécie Juçara. Nenhuma empresa tem autorização para extração desse tipo no Rio Grande do Sul.
- Vamos emitir uma circular para todas as vigilâncias municipais no sentido de coibir essa prática e realizar um trabalho de mais credibilidade - ressalta Paulo Mansan.
Contatadas por Zero Hora, as empresas GKS Conservas e Brehm Três Forquilhas não quiseram se posicionar sobre o caso. A sócia-diretora da empresa DaTerra Conservas, Denise Liliane Batista da Silva, informou que não tinha conhecimento do esquema nem beneficia empresas de extração ilegal.
A Serra Azul, por meio de seu advogado, informou que "a empresa concorda com a vistoria do Ministério Público, que elimina os clandestinos neste mercado. E não trabalha com o palmito Juçara, mas apenas com o permitido por lei."
Já Ricardo Mansan, dono da empresa Conservas Manzan, afirmou que não realiza extração ilegal de palmito e só comercializa palmitos de produtores da região. Até as 10h30min, Zero Hora não havia conseguido contato com as empresas Conservas JN e Conservas Abedeno.
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