O vencedor do Prêmio Nobel da Paz, o Quarteto para o Diálogo Nacional na Tunísia, permitiu salvar a transição democrática no país, berço da chamada Primavera Árabe, em um momento de profunda crise.
Graças ao grupo, formado em meados de 2013 pela União Geral Tunisiana de Trabalho (UGTT), sindicato histórico da Tunísia e símbolo da independência, pela patronal Utica, pela Liga Tunisiana de Direitos Humanos (LTDH) e pela ordem dos advogados, o país conseguiu concluir sua transição política no ano passado, com a adoção de uma nova Constituição e a eleição de Beji Caid Essebsi, primeiro presidente democraticamente eleito da Tunísia.
O Nobel é "uma homenagem aos mártires da Tunísia democrática", declarou nesta sexta-feira o secretário-geral da UGTT, Houcine Abassi, cujo sindicato teve um papel fundamental na criação do Quarteto.
Há dois anos, a Tunísia sofria uma paralisia política que ameaçava todo o processo iniciado após a queda do regime do ditador Zine El Abidin Ben Alí, em janeiro de 2011.
O assassinato de dois opositores de esquerda, Chokri Belaid (fevereiro de 2013) e Mohamed Brahmi (julho de 2013), comoveu todo o país.
Os islamitas do Ennahda, que haviam vencido as primeiras eleições democráticas de outubro de 2011, estavam distantes de gerar consenso entre os tunisianos, e seus críticos boicotaram os trabalhos da Assembleia Constituinte e organizaram manifestações em massa.
Neste contexto, a UGTT, sindicato histórico de meio milhão de afiliados e símbolo da independência de 1956, impôs o diálogo à classe política.
O sindicato, fundado pelo líder nacionalista Farhat Hached em 20 de janeiro de 1946, durante o protetorado francês, era a única força presente em todo o país junto à Agrupação Constitucional Democrática criada por Ben Alí.
As forças políticas tunisianas reconheceram que os esforços da UGTT impediram uma polarização da sociedade entre islamitas e anti-islamitas, e assim evitar o caos que se estabeleceu nos demais países da Primavera Árabe.
Grandes desafios
Uma Constituição que reconhece a herança islâmica e inclui reivindicações laicas foi aprovada em 2014, três anos após a revolução.
Após a adoção deste texto, que estabeleceu um regime parlamentarista, o governo do Ennahda renunciou e deu lugar a um executivo de tecnocratas encarregado de conduzir a Tunísia a eleições legislativas e presidenciais.
Estas duas eleições foram realizadas sem incidentes e foram vencidas pelo partido Nidaa Tounes e Essebsi, um ex-ministro de Habib Bourguiba, o pai da independência tunisiana.
Nidaa Tounes, que havia criticado duramente o Ennahda durante a campanha eleitoral, acobou aliando-se a este partido para formar um governo de união.
Após as eleições, o Quarteto para o Diálogo Nacional perdeu parte de sua razão de ser.
Mas, apesar do sucesso da transição, o governo do primeiro-ministro Habib Essid ainda enfrenta grandes desafios.
A economia não consegue decolar, e o país está enfraquecido pela crescente ameaça jihadista desde 2011.
Dois ataques reivindicados pelo grupo Estado Islâmico (EI), contra o Museu do Bardo em março (22 mortos) e a um hotel em Susa no final de junho (38 mortos), infligiram graves danos ao setor do turismo.
* AFP