Alceu Collares foi chefe de Dilma Rousseff quando a petista, hoje presidente, era secretária de Estado em seu governo. A relação ficou estremecida após Dilma deixar o PDT, mas foi reatada anos depois. Leia mais neste trecho da entrevista.
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"Quem perdeu tem de botar a viola no saco"
"A tragédia do preso é o tempo"
"Aqueles que cultivam mágoa são pessoas de mal com elas mesmas"
"Não tem ninguém mais apaixonado pelo Brizola do que eu"
O senhor foi chefe da presidente Dilma Rousseff como secretária de Minas e Energia no seu governo. Como era o seu relacionamento com ela?
Sempre foi muito bom.
O senhor imaginou que um dia ela pudesse chegar à Presidência?
Quando ela saiu do PDT, junto com o Carlos Araújo, eu disse uns negócios meio fortes, chamei de traidores. Mas nunca perdemos o vínculo, tanto que fui eu quem trouxe o Araújo de volta para o PDT. O Araújo tinha saído com ela, mas nunca ingressou no PT. Há pouco tempo, coisa de dois, três anos, abonei a ficha de volta do Araújo para o PDT. Com ela, sempre tivemos um relacionamento de respeito, de admiração recíproca, porque ali quem estava governando era um vendedor de laranja lá em Bagé.
O senhor sempre foi assim, uma pessoa de alto astral?
Sempre. Lembro que uma vez eu saí, num dia meio frio, com o balaio de frutas e não vendi. Não havia comprador. Voltei e o pai disse: "olha aí, não vendeu". Eu disse: "me arruma um emprego". E ele arrumou de entregador de telegrama. E a primeira vez que eu fui, o chefe, que era Pedro Correa, uma figura querida, disse que, com esse sapato (estava de tamanco), não dava para trabalhar. Aí, o velho comprou um sapato. Mas eu adorava futebol, tanto que eu cheguei a jogar uma partida ou duas no primeiro time do Bagé. E eu digo em tom de brincadeira que eu fui muito perseguido pelos técnicos: entrava um e entrava outro e nenhum enxergava o meu futebol. Só podia ser perseguição. Mas eu me esforçava muito e adorava, adoro até hoje.
O senhor foi massacrado pelos deputados do PT na Assembleia. Hoje, o senhor é aliado da presidente Dilma Rousseff, participa de um governo do PT. Na política é mais fácil perdoar ou é a conveniência fala mais alto?
A minha concepção é de que um tipo de entendimento desses não se dá em torno das pessoas, do que elas pensam. É em torno do projeto, do programa, da concepção ideológica, filosófica, sociológica daquele grupo que se submete ao voto popular para chegar até o município, Estado e União. É evidente que todos nós admiramos a forma como a Dilma chegou à Presidência da República. Está com dificuldades? Monumentais. Monumentais. E eu quero te dizer que eu fico muito sofrido.