No trecho a seguir da entrevista, Alceu Collares fala sobre a reconciliação com o PT, o trabalho como conselheiro da Itaipu e a relação com a mulher, Neuza Canabarro. Confira:
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Como foi a sua reconciliação com o PT? Na CPI da Propina o senhor foi atacado duramente pelos deputados do PT.
Tem gente que diz assim: eu não entendo te ver com o Tarso, com o Lula, com a Dilma... Eu digo, eu não estou com as pessoas, estou com os projetos, com a proposta que está sendo feita.
O senhor não guarda nenhuma mágoa?
Nenhuma. Graças a Deus. Aqueles que cultivam mágoa são as pessoas que estão mal com elas mesmas. Acho que a pessoa que cultiva a malquerença, o ódio, a ambição, ela maltrata a si mesma. É um tipo de castigo que a pessoa se auto aplica. Não tem de ter inveja de ninguém. Eu nunca tive inveja de ninguém, eu tinha às vezes admiração. Lá em Bagé tinha um mulato da Caixa Econômica, pai do Barbosinha, grande figura. Eu, com o balaio de frutas, olhava ele passar bem arrumado e pensava: um dia pode ser que eu possa estar bem arrumado. Ele era muito elegante, fino, preparado.
Em que momento o senhor se sentiu como ele, bem-arrumado? Quando tomou posse no Piratini?
Em nenhum momento. Eu vou levando a vida de uma forma extraordinariamente simples.
A sua vida se divide entre antes e depois da Neuza?
Sim, senhora. Ela é o meu caminho. E tem uma paciência impressionante, porque eu sou meio bagual. São 32 anos juntos. Ela é uma heroína, porque eu sou um chato. Barbaridade, sou xarope.
O senhor foi o primeiro governador negro. Enfrentou muito preconceito?
Eu sempre convivi com isso. Não me lembro. Devo ter enfrentado, mas eu ficava com pena de quem cultivava o preconceito, porque é uma degradação moral e ética da criatura não gostar do outro por causa da cor.
O senhor não é um especialista em energia. Quais são as suas credenciais para ser conselheiro de Itaipu Binacional?
Fui convidado pelo próprio partido. Havia uma vaga e o PDT me indicou. Estudar o problema da produção de energia eu já fazia desde que era vereador. Eu me especializei. Só que tu não precisas conhecer tecnicamente as diversas formas de produção de energia, seja elétrica, solar ou dos ventos. Sempre tive essa preocupação. A minha função lá [e, por incrível que pareça, defender os trabalhadores.
Qual é a sua contribuição específica?
Lá eles fazem tudo tecnicamente, trazem preparado.
Como é a sua participação? O senhor vai a uma reunião por mês?
Vou quando convocam. Na reunião já vem quase tudo preparado. É uma tecnologia das mais modernas no campo da administração pública.
(Neuza intervém e mostra a ata da última reunião, que Collares precisa ler e aprovar, e a pauta da próxima. Explica como funcionam as reuniões, normalmente realizadas em dois dias. No primeiro, os conselheiros do Brasil e do Paraguai se reúnem em separado. No segundo, fazem a reunião conjunta, "cada um de um lado da mesa").
Com o escândalo da Petrobras, os conselheiros das estatais ficaram mais cautelosos. Em algum momento os senhor impediu algum negócio de Itaipu?
Isso tudo tem que ser bem feito.
Quem lhe orienta?
Eu estudo. Na hora em que é necessário, chamo um técnico e pergunto.
O senhor é um conselheiro duro?
Sou um chato. Na última reunião levaram uma revogação de licitação. Eu disse "não pode". Se houve licitação e uma empresa ganhou, não pode revogar. Pode, se comprovado que houve falhas técnicas, pedir a anulação. Itaipu tem um presidente que está lá há 10 anos, o Jorge Samek. Ele é muito competente. Itaipu é uma empresa de qualidade mundial na produção de energia.