A presença em dois grandes épicos históricos fez do ator egípcio Omar Sharif, que morreu nesta sexta-feira, aos 83 anos, um dos astros mais populares do cinema. Indicado ao Oscar de melhor ator coadjuvante por seu papel em Lawrence da Arábia (1962) e protagonista de Doutor Jivago (1965), em ambos dirigido pelo cineasta britânico David Lean, Sharif conseguiu com esses trabalhos romper a barreira que costuma limitar atores de países periféricos a papéis secundários e etnicamente estereotipados. O ator enfrentava nos últimos anos complicações decorrentes do Alzheimer. Segundo seu empresário, Steven Kenis, ele sofreu um ataque cardíaco no hospital do Cairo onde estava internado.
5 filmes para recordar Omar Sharif
Em 1982, Omar Sharif visitou Bagé
Seu nome verdadeiro era Michel Demitri Shalhoub. Nasceu em Alexandria, no dia 10 de abril de 1932, filho de um rico comerciante de madeira. Formado em Matemática e Física pela Universidade do Cairo, Sharif foi seduzido pelo cinema e passou a atuar em produções locais em 1954, como Siraa Fil-Wadi, filme no qual conheceu a atriz Faten Hamama, com quem se casou no ano seguinte. De família católica, ele converteu-se na ocasião ao islamismo, adotando o nome Omar al-Sharif. Da união com Faten, nasceu seu único filho, Tarek Sharif, em 1957.
As participações em produções francesas como A Aventureira do Oriente (1956) e Goã (1958) deram visibilidade a Sharif na Europa. O grande passo de sua carreira veio em Lawrence da Arábia, produção estrelada por Peter OToole inspirada na história real do militar britânico que promoveu a união de tribos árabes para enfrentar os turcos na I Guerra.Sharif ganhou o papel de Sherif Ali, guerreiro nômade que se torna braço direito do protagonista. Além da indicação ao Oscar, ele ganhou dois Globos de Ouro: melhor ator coadjuvante e "estreante promissor".
Como é a cena do cinema contemporâneo do Oriente Médio e de seus vizinhos Egito, Turquia e Grécia
Na sequência do sucesso do épico ganhador de sete Oscar, Sharif atuou em outros dramas históricos, entre eles A Queda do Império Romano (1964), de Anthony Mann, A Voz do Sangue (1964), de Fred Zinnemann, Gengis Khan (1965), de Henri Levin, e Marco Polo, o Magnífico (1965), de Denys de La Patellière e Raoul Lévy.
Novamente sob a direção de Lean, Sharif ganhou o papel de sua vida: o protagonista de Doutor Jivago (1965), adaptação do romance de Boris Pasternak ambientado na Revolução Russa de 1917. Na história, o médico aristocrata interpretado por ele vive um amor proibido com uma enfermeira (Julie Christie). Doutor Jivago foi indicado a 10 Oscar, ganhou cinco em categorias técnicas, mas o nome de Sharif não foi lembrado pela Academia de Hollywood.
50 filmes que você tem que assistir na Netflix
21 clássicos do século 21
Nas décadas seguintes, o ator seguiu uma carreira progressivamente mais discreta. Seu último grande momento foi em Uma Amizade sem Fronteiras (2003), de François Dupeyron, que lhe valeu o César, principal prêmio do cinema francês, e o troféu de melhor ator no Festival de Veneza.
Fluente em inglês, espanhol, grego e francês, Sharif também fez, a partir do começo dos anos 1960, uma renomada carreira internacional com jogador de bridge, tema sobre o qual escreveu livros referenciais - em 1992, licenciou o popular jogo eletrônico Omar Sharif Bridge.
Em uma entrevista de 2006, disse:
- Eu tive muitas paixões: bridge, cavalos, apostas. Mas decidi não ser mais escravo de nenhuma delas, exceto meu trabalho, e ficar mais com minha família, porque não dediquei a ela tempo suficiente.
Sua paixão por cavalo, inclusive, fez ele visitar o Rio Grande do Sul em abril de 1982, quando esteve em Bagé conhecendo o haras Inshala, à época de propriedade do investidor financeiro Naji Nahas.
Sharif deixa como últimos trabalhos no cinema as participações nos longas-metragens Rock the Casbah (2013), coprodução entre França e Marrocos dirigida por Laïla Marrakchi, e a narração na dublagem da animação britânica inspirada em uma história árabe 1001 Inventions and the World of Ibn Al-Haytham (2015).
Veja a galeria de fotos de Omar Sharif:
* Zero Hora