Passei uma noite no Bairro Olaria, em Cachoeirinha, com famílias que se recusavam a sair das suas casas, apesar de as ruas estarem com mais de 1,5m de altura de água.
No primeiro momento, fazia uma reportagem para o Jornal do Almoço. Depois, vi que era muito mais do que isso. Conheci pessoas que tinham a chuva como seu menor problema.
Um senhor idoso não saía de casa, pois tinha medo que ladrões roubassem suas coisas. Outra senhora, com filhos pequenos, até queria sair, mas seu marido é violento e disse que, se ela saísse, sofreria depois. Pelos filhos, ficou.
Depois de perambular pela água por mais de seis horas, vi que muitas pessoas que sofrem com as chuvas têm problemas mais sérios, diariamente ignorados por todos. Quando são negadas a elas vagas de emprego, acesso à saúde, à segurança e à educação, elas ficam vulneráveis. A chuva só é o problema atual.
O que eu vi
Apesar da tristeza, vi familiares dormindo todos juntos para se esquentar, e uma avó que dizia ter saudade de dormir com as netas. Vi pessoas sendo solidárias com seus barcos, levantando mais cedo para dar carona aos que tinham de trabalhar. Vi, ainda, vizinhos revezando as vigílias para que ninguém ficasse sobrecarregado.
Enxerguei muito além de uma comunidade alagada, mas pessoas vivendo e lutando juntas pela vida. O que mais me chocou foi uma senhora que disse que Deus mandava a chuva para ver se alguém olhava para eles, pois, sem chuva, eles são invisíveis.