Pelo menos 800 famílias foram atingidas pela cheia do Rio Caí, em São Sebastião do Caí, a cerca de 60 quilômetros de Porto Alegre. Conforme a Defesa Civil do município, 28 famílias estão abrigadas no ginásio de esportes do bairro Navegantes, o mais afetado pela enchente.
Nas últimas horas, segundo o coordenador da Defesa Civil, Pedro Griebler, o nível das águas permanece estável, em torno de 11,5 metros - 1,5 acima do leito. Para que os desalojados consigam retornar às suas casas, é necessário que as águas baixem pelo menos um metro, diz ele.
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Entre as 63 pessoas abrigadas no ginásio esportivo estão cinco haitianos, que há pouco mais de um mês se mudaram para a cidade para trabalhar na empresa Oderich. O mais falante do grupo, Remis Exantus, 45 anos, chegou ao Brasil há cerca de dois anos.
Depois de um período em Caxias do Sul, ele transferiu-se para São Sebastião, onde alugou a garagem no número 5 da Rua Pinheiro Machado - a primeira casa da via, à margem do Caí - sem desconfiar da razão do aluguel barato (R$ 50 mensais). Exantus ainda nem aprendeu a operar as máquinas usadas na fabricação de salsichas, mas já descobriu que o local escolhido como moradia é um dos primeiros a serem atingidos pelas seguidas cheias do rio.
- Não sabia - diz Exantus, sem conter o sorriso espontâneo. - Agora já sei.
Ginásio esportivo da cidade abriga famílias desalojadas pela enchente do Caí
Foto: Mateus Bruxel / Agência RBS
Acostumadas às cheias, centenas de famílias seguem em casa
Entre as centenas de famílias que permaneceram em suas casas, a maioria desenvolveu estratégias para lidar com corriqueiras cheias do rio, que transborda pelo menos uma vez por ano. Morador da Rua São Lourenço, o pescador Fabiano Ribas, 33 anos, trocou a casa em um loteamento que ganhou há alguns anos da prefeitura - justamente para escapar das enchentes - por um sobrado às margens do Caí. O próprio prédio é parte do sistema anti-enchente: quando as águas sobem, inundando o térreo, móveis, eletrodomésticos, roupas e utensílios são empilhados no segundo andar.
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Em meio aos constantes sobressaltos com as altas do Caí, Fabiano comemora o fato de estar perto - às vezes, dentro - do rio de onde tira carpas, grumatãs e pintados para sustentar a mulher, Giliane, e os filhos, Cleiton, 10 anos, e Cléder, seis anos. Nesta quinta-feira, ele conseguiu apenas uma carpa de quatro quilos, que lhe renderá entre R$ 30 e R$ 40:
Com filho no barco, pescador Fabiano Ribas usa remo para abrir portão de casa
Foto: Mateus Bruxel / Agência RBS
- Saí de casa agora só para ir na venda (minimercado) - diz Fabiano, desembarcando do bote, que, além de instrumento de trabalho, durante as cheias vira meio de transporte.
A poucos metros da casa do pescador, o bolicheiro Luiz Santos, 59 anos, usa o mesmo método adotado por grande parte dos moradores do bairro Navegantes: mora em um sobrado. Assim, quando as águas atingem o Bar Rei da Noite, a solução é transferir os móveis, equipamentos e produtos do estabelecimento para o segundo andar.
Desta vez, porém, Santos foi surpreendido e, quando acordou, deparou com fogão, mesas, balcões e garrafas boiando na parte inferior do imóvel. Apesar do prejuízo, que estima em R$ 60 a R$ 70 diários, o bolicheiro mantém o bom humor:
- É uma dureza. Se colocar outro no meu lugar, não aguenta. Mas eu tô acostumado. O importante é salvar o pelego.
População enfrenta enchente no bairro Navegantes, em São Sebastião do Caí
Foto: Mateus Bruxel / Agência RBS
*Zero Hora