O nome dela é Catalina Botero. Colombiana, especialista em direitos humanos.
Dedica-se a monitorar - e denunciar - as ameaças à liberdade de expressão na América Latina. Por conta disso, é persona non grata entre bolivarianos e afins.
Catalina falou cerca de 20 minutos no Fórum da Liberdade, evento de inspiração liberal que reuniu mais de 5 mil pessoas na semana passada em Porto Alegre. E, quando ela começou a falar, se fez um silêncio absoluto.
Durante os dois dias de debate, houve intensa circulação de ideias. Em boa parte, críticas duras ao PT, às esquerdas e ao governo. Acontece nesses casos de catarse, quando pessoas que pensam parecido ouvem algo com que concordam: o tom de voz, em alguns momentos, subiu. Um dos palestrantes deu um chute simbólico no PT. "Petralhas, ladrões, vagabundos." Tudo isso apareceu. Como apareceu também há mais tempo, pelo lado oposto e com outras palavras, no Fórum Social Mundial, evento que acompanhei nas suas edições porto-alegrenses.
Nos dois fóruns, o Social Mundial, mais antigo, e no da Liberdade, mais recente, houve reflexão, massa crítica e inteligência. Tudo isso em Porto Alegre, sem sair de casa. Um luxo.
Uma breve divagação em forma de pergunta: "O que diria hoje um Fórum Social Mundial realizado no Brasil?".
Voltando à terça-feira passada: Catalina Botero subiu ao púlpito. "Concordo com muita coisa que ouvi aqui. Mas não concordo com outras tantas." Silêncio. Catalina prosseguiu: "Vou contar pra vocês do que eu falo quando eu falo em liberdade". E falou.
Liberdade é, em primeiro lugar, defender o direito do outro. O direito a se expressar, a acreditar no que bem entender. Não sou socialista, mas o socialismo é uma ideia, e na sua dimensão de ideia, é tão bela quanto qualquer outra. Muita gente morreu nas mãos das ditaduras de esquerda, é verdade. Mas também morreu nas de direita, como na Alemanha, no Chile ou mesmo aqui no Brasil. Qualquer radicalismo é ruim. É disso que eu falo quando falo em liberdade.
Catalina foi aplaudida.
O que me deixou aliviado.
E cheio de esperança.
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