Quatro das principais lideranças do setor de tecnologia em Florianópolis se posicionaram, nesta sexta-feira, de forma crítica sobre a atuação da prefeitura da Capital de Santa Catarina. Eles reclamam da falta de planejamento e de políticas públicas para o setor, mas também de funções básicas que a administração municipal está deixando de executar.
- As empresas de tecnologia não dependem do apoio da prefeitura. Mas a gente está diante do risco de o município perder várias dessas companhias - disse o presidente da Associação Catarinense de Empresas de Tecnologia (Acate), Guilherme Stark Bernard.
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Ele citou dois empreendimentos. Primeiro, a perda da Neoprospecta para Palhoça. A empresa veio há cerca de dois anos para o Sapiens Parque, atraída do Rio Grande do Sul. Agora está sendo obrigada a mudar suas instalações porque, pela morosidade da prefeitura na liberação de alvarás, estava com problemas para atuar.
- Imagina daqui a 10 anos, com essa empresa faturando R$ 1 bilhão. E saiu daqui porque não conseguia emitir nota fiscal - revela o presidente da Acate.
O Sapiens tem as licenças para a construção de novos empreendimentos, mas ainda não tem as liberações da prefeitura para a atuação de empresas no local. Isso ocorre ainda hoje, mesmo com o projeto de ter ali parque tecnológico tendo iniciado há 14 anos, em 2001.
O outro exemplo é a empresa Welle Laser, que estava incubada no Parque Tecnológico Alfa. Ela foi, entre as pequenas e médias empresas, a que mais cresceu no ano passado, de acordo com levantamento da consultoria Deloitte. Buscou local para se instalar em Florianópolis, mas acabou escolhendo Palhoça por dificuldades em encontrar uma área pela questão do zoneamento.
De costas para o setor que mais cresce
- O próprio Plano Diretor ignorou o setor que mais contribui com recursos para o município - disse Heitor Blum, presidente da Associação dos Usuários de Informática e Telecom de Santa Catarina (Sucesu-SC), lembrando que as empresas do setor de tecnologia são, entre as instaladas na cidade, as que mais arrecadam impostos para o município. Foram R$ 72 milhões em 2014, com crescimento de 20% em relação ao ano anterior.
- Se você pegar o mapa do Plano Diretor, eles fizeram uma entortada na área do parque tecnológico e ficou por isso mesmo. Por um erro, ele (que já está construído desde 1993) cruzou uma linha que pega a Techno Towers e a minha empresa, que agora ficaram em área residencial exclusiva. Já nos manifestamos inúmeras vezes e nada mudou. Fizemos mais de 300 ofícios - conta Alexandre d Ávila, presidente do Sindicato das Indústrias de Informática de Santa Catarina (Siesc), que também é presidente da empresa CEBRA.
Antes de externar as insatisfações, os empresários buscaram dialogar com a prefeitura. Enviaram ofício há um ano pedindo uma reunião. Sem resposta.
A reportagem pediu uma entrevista com o prefeito de Florianópolis, Cesar Souza Junior (PSD), ainda na manhã desta sexta-feira, pedindo uma resposta para o início da tarde, para buscar a posição e os contra-argumentos da prefeitura sobre os questionamentos do setor.
Tentativas de contato feitas na tarde de hoje, nos celulares da assessoria e do prefeito, não tiveram resposta.
Reivindicações
O setor elencou três das principais demandas da área de tecnologia, que seriam passos iniciais para encaminhar melhorias para uma das poucas áreas
1) Desburocratizar questão de abertura de empresas e da liberação de alvarás de funcionamento
2) Dar capacidade orçamentária à Secretaria Municipal de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico Sustentável, retomando as ações de governo eletrônico e de planejamento para ciência e inovação.
3) Regulamentação da Lei de Inovação. Ela foi aprovada há três anos, em abril de 2012, mas é uma lei sem efeito porque seu regramento nunca foi estabelecido. Criava um Fundo Municipal de Inovação - abastecido com o próprio imposto pago pelas empresas de TI. E investiria R$ 15 milhões até 2013 na área, mas não investiu R$ 1,00.
Atraso para o desenvolvimento
A nova sede da Acate, inaugurada em março, às margens da SC-401, é também um Centro de Inovação. Tem 90% das 32 salas voltadas para empresas de tecnologia já locadas. E está sendo prejudicado também pela morosidade na emissão do alvará.
- Tem coisas simples que envolvem apenas a burocracia da prefeitura. A prefeitura tem que se mexer nessa direção. Essa instalação aqui, nova, praticamente totalmente locada, e nós não temos alvará. As empresas não vão mudar para cá se não tiver. Está lá numa gaveta de alguém na prefeitura - disse o presidente da Acate.
Bernard destaca os prejuízos da própria prefeitura com essa lentidão. Diz que o novo empreendimento funcionando com 100% de sua capacidade gera riqueza tem um faturamento comparável a seis temporadas turísticas de sucesso em Florianópolis.
Uma temporada turística boa acrescenta R$ 20 milhões de faturamento na economia da cidade, diz o presidente da Acate, com dados que teria obtido da prefeitura. O número seria comparável a uma empresa de tecnologia com 120 funcionários.
- Essa insatisfação começa com coisinhas bem pequenas e vai acumulando - conta d Ávila.
Ele lembra que, desde 2000, quando assumiu a presidência da Acate, o setor vem pleiteando que os alvarás para empresas de pequeno porte pudesse ser concedido para zonas residenciais. Permitir que um pessoa que atue com TI, de casa no computador, pudesse ter seu negócio formalizado no bairro Santa Mônica, por exemplo. Uma coisa simples que, até hoje, não está resolvida.
Os quatro forma unânimes em lembrar com tristeza que, em dezembro de 2012, tiveram uma reunião com Cesar Souza Junior, recém-eleito prefeito, em que lhes foi dito, basicamente, que "Florianópolis já é conhecida pelas suas belezas, não precisamos divulgar isso." Em seguida, veio a promessa de que sua gestão teria a tecnologia como um dos principais focos.
Posicionamento
Setor de tecnologia de Florianópolis critica prefeitura por lentidão burocrática e falta de planejamento para a inovação
Representantes de entidades representativas da área, Acate, Siesc, Sucesu-SC e Abes, firmaram posição cobrando mais profissionalismo também na atuação da Secretaria Municipal de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico Sustentável
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