Aos 80 anos, o economista Luiz Carlos Bresser-Pereira dedica seu tempo a três paixões: a mulher, Vera, companheira de "uma vida inteira mais seis meses", o cinema e o trabalho intelectual. Recentemente, seu esforço para entender o país resultou no lançamento do livro "A Construção Política do Brasil", obra na qual explica as razões da estagnação econômica por meio do embate entre liberalismo e desenvolvimentismo e de coalizões de classes ao longo das décadas. Bresser almeja manter viva a tradição dos grandes intérpretes brasileiros e afirma que o país perdeu a ideia de nação. E não seleciona os alvos das críticas: aponta erros em todos os últimos governos.
Curiosamente, trabalhou para dois deles. Foi ministro da Fazenda de José Sarney e comandou duas pastas na gestão de Fernando Henrique Cardoso (Ciência e Tecnologia e Administração Federal e Reforma do Estado). Ex-executivo do Grupo Pão de Açúcar, é também professor emérito da Fundação Getulio Vargas. Antes de sair para dar uma aula na FGV, recebeu ZH em seu escritório em São Paulo no dia 8.
Por que o Brasil perdeu a ideia de nação?
Divido a história do Brasil independente em três ciclos. O primeiro se relaciona ao Império e corresponde à formação do Estado e à integração territorial. O segundo, de 1930 até 1980, é o período de formação da nação, de afirmação do Brasil, e de um crescimento extraordinário. Foi o país que mais se desenvolveu no mundo e fez sua revolução capitalista. Em 1980, ocorre uma grande crise financeira, provocada pela dívida externa e pela inflação. É nessa época que começa o terceiro ciclo, um grande acordo em torno da democracia e da justiça social. Há consenso de que se deve combater a desigualdade com aumento do gasto público social. No final dos anos 1980, o fracasso do Plano Cruzado abre uma grande crise política. Diante disso, o neoliberalismo, que já havia se tornado dominante no mundo, chega ao Brasil com o governo Fernando Collor (1990-1992). E o neoliberalismo é negação da ideia de nação para nós. Bancos, multinacionais e governos vêm ao Brasil só para nos "ajudar". O que é ridículo. Eles têm um imenso interesse de ocupar o mercado brasileiro com seus capitais, financiamentos e multinacionais. Além de fazer a troca desigual: nós exportamos produtos primários, e eles exportam manufaturados para a gente.
Com a palavra
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Ex-ministro de José Sarney e Fernando Henrique, economista aponta erros em todos os últimos governos e afirma que o país perdeu a ideia de nação
Leandro Fontoura
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