Espraiar o triunfo obtido com o reassentamento de centenas de famílias do chamado Valão dos Braga, no bairro Fátima Baixo, em Caxias do Sul, é uma tarefa hercúlea, possivelmente para ser executada a conta-gotas nos próximos 10, 20 anos. Mas a experiência já aponta quais os caminhos para erradicar mais de 100 núcleos de subabitação e tirar parte das 9 mil famílias de baixa renda da lista de espera da casa própria na cidade.
Compare o antes e o depois no Fátima Baixo:
Os remanescentes do projeto de remoção do Fátima Baixo se mudam a partir de abril para moradias novas no loteamento Victório Trez. Projeto semelhante pode ser conferido no loteamento Campos da Serra, no bairro São Luiz da 6ª Légua, que também já recebeu centenas de famílias de áreas de risco ou que viviam em moradias precárias.
Entretanto, mais significativas são as mudanças na rotina de quem viveu no Valão dos Braga ou perto dele. Há 20 anos, a Associação Criança Feliz acompanha moradores da antiga comunidade e percebe evolução na saúde das crianças e na independência financeira das famílias.
- Ganhavam muita doação e se isso terminou quando se mudaram, o que os tornou mais autônomos, que buscam meios de manter a casa nova. Os meninos e meninas também estão mais saudáveis, antes moravam perto de um esgoto - assinala Cibele da Rosa, gerente da Associação Criança Feliz.
Coordenadora do trabalho técnico-social da UCS no loteamento Victório Trez, Rosane do Nascimento lembra que o bairro tinha sérios problemas de saneamento e alagamento.
- Uma intervenção pública de peso pode mudar a vida de famílias - elogia.
Oraci de Oliveira chegou no Fátima Baixo com três anos e ficou com a família ali durante quase quatro décadas até ser transferido para o Victório Trez no projeto de reassentamento. Da porta de casa na Rua Henrique Fracasso, ele acompanhou a formação do Valão dos Braga e o crescimento no entorno. Ele e a mãe, Terezinha, 74, foram os primeiros contemplados na transferência iniciada em 2010. Hoje moram numa casa de alvenaria.
- Não queria ter saído porque nos acostumamos, mas reconheço que onde estamos é melhor. Havia muita pobreza naquela área - conta Oraci.
A família de Beatriz de Fátima Fogliato Rodrigues, 50 anos, será vizinha de Oraci. Ela ainda reside no Beco do Costão, a pouco metros do antigo Valão. Quando chove, a água do esgoto desce do Fátima Alto e alaga moradias. Em abril, finalmente se muda com uma neta e o marido, Oswaldo, 52, para um apartamento novinho. Alexandre, filho dela, e a nora Stéfani também morarão no prédio.
- Lembro das ruas alagadas, de um grande incêndio que consumiu casas. Era uma vida difícil. Vai ser melhor - aposta Beatriz.
História
A data de ocupação do Valão dos Braga e do entorno é incerta, possivelmente começou no início dos anos 1970. Antes disso, surgiram casas perto da propriedade da família Braga, às margens da ERS-122, o que acabou batizando a faixa de terra às margens ERS-122, na saída para Flores da Cunha.
Outros focos
Confira quais são as maiores áreas de subabitação que precisarão de intervenção pública nos próximos anos em Caxias, segundo a Secretaria Municipal da Habitação:
Margens da Rota do Sol - Cerca de 400 moradias às margens da rodovia no bairro Industrial e no Santa Fé serão desmanchadas. As famílias serão transferidas para prédios no futuro loteamento Rota Nova, no bairro Mattioda.
Ocupações nos trilhos do trem - Do loteamento Vila Amélia ao bairro Forqueta são cerca de 1 mil famílias assentadas na faixa de domínio da antiga ferrovia. Não há planos definidos para remoção a curto prazo.
Subabitação no Planalto - O bairro tem cerca de 220 famílias em áreas precárias. A ideia é construir novos imóveis dentro do bairro e desocupar terrenos dos pontos conhecidos como Chapa e Cooesp. Sem prazo.
Às margens do Arroio Tega - Mais 460 unidades serão erguidas no futuro loteamento San Gennaro, próximo ao antigo aterro São Giácomo, entre o Cidade Nova e o Reolon. O espaço receberá famílias de diversos bairros e também dos casebres às margens do Arroio Tega, entre o Reolon e a Vila da Esperança.
Sob a rede de alta tensão - Pelo menos 20 famílias em subabitações vivem debaixo da rede de alta tensão no loteamento Madalosso, no bairro Cânyon. Sem prazo.
Habitação
Resultados do Fátima Baixo, em Caxias, servem de base para outros projetos
Cidade tem mais de 100 núcleos de moradias precárias e 9 mil famílias na espera da casa própria
Adriano Duarte
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