Qual sua avaliação dos protestos e qual o significado das manifestações?
Os significados poderiam ser muitos, mas há de fato descontentamento de muita gente com a corrupção, o que é mais do que justo, necessário. Há um erro quando se pensa na corrupção toda focada no PT ou na esquerda. Os manifestantes partem de um princípio correto, que é o de contestar a corrupção, mas acabam fazendo uso político. Infelizmente, no Brasil a maior parte das críticas à corrupção é politicamente interesseira. Isso só expressa a pobreza de nossa cultura política.
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Que consequências pode ter?
Tudo vai depender de como as coisas serão elaboradas. Há muito tempo que nós temos a oposição batendo pesado no PT, inclusive com a questão da Lava-Jato, e o PT está praticamente inerte. É natural que as manifestações contra o governo sejam muito mais numerosas do que as a favor. Agora, por outro lado, o que precisava acontecer mesmo é o governo reagir.
Como o governo deve reagir?
Tem de falar. Já está atrasado. Quando fala, não o faz bem. Teria que falar de uma maneira que conquiste mais gente. Mas não é nem a questão de conquistar, a questão é que faz parte da política você prestar contas, e isso não está rolando.
O pacote contra a corrupção satisfaz as reivindicações?
Não, tem de ser muito mais. Como a presidente não tem o hábito de explicar às pessoas o que ela quer, isso a enfraquece. Como você pode ter um apoio popular se você mesma não diz o que você acha, o que você quer, quais são suas propostas?
A legitimidade do governo fica comprometida?
A presidente tem legitimidade que não se tira de maneira banal.
Qual é o papel da oposição?
As oposições têm de fazer projetos. Estão muito preguiçosas.
Entrevista
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Janine é professor de Ética e Filosofia Política na USP
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