Foi a partir da denúncia de uma testemunha-chave que se desencadeou a nona fase da Operação Lava Jato, desta vez com foco na empresa catarinense Arxo, cuja sede fica em Balneário Piçarras. Cintia Provesi Francisco, ex-gerente financeira da fabricante de tanques de combustível investigada pela Polícia Federal, procurou o Ministério Público Federal (MPF) no dia 16 de janeiro deste ano para relatar o envolvimento dos donos e funcionários da fabricante em esquema de corrupção envolvendo pagamento de propina à Petrobras e lavagem de dinheiro. Com base em seu depoimento, o juiz federal Sérgio Moro decretou a prisão temporária dos suspeitos de SC, cumpridas na última quinta-feira e sexta-feira.
Leia também
::: Os motivos que levaram a Justiça a decretar prisões em SC
::: Entenda a nona fase da operação da Polícia Federal
Cintia trabalhou na Arxo entre janeiro de 2013 e novembro de 2014 e prestou depoimento ao MPF na condição de testemunha voluntária. Ela revelou que a Arxo obtinha os contratos com a Petrobras, por meio de informações privilegiadas, efetuando o pagamento de vantagem indevida de 5 a 10% dos valores contratuais. A testemunha também afirmou que os sócios-proprietários e irmãos Gilson Pereira e João Pereira repassavam propina a cada "dois ou três meses" a Mário Góes, operador do esquema e elo entre a Petrobras e as empresas contratadas.
A ex-funcionária afirmou ainda que "nos dias anteriores à vinda dele (Mário Góes) procediam-se todas as movimentações na empresa para gerar dinheiro em espécie". "Inclusive a depoente auxiliava a colocar o dinheiro em envelope, sendo que algumas oportunidades viu que Góes saia da empresa com, este envelope debaixo do braço".
Revanche e ameaça de morte
Ao MPF, Cintia disse que questionou os empresários a respeito dos repasses em dinheiro a pessoas que não faziam parte da folha de pagamentos da empresa, mas que foi "advertida" a se manter calada. Após continuar fazendo perguntas, afirmou que foi ameaçada de morte. O juiz federal utilizou essa declaração para sustentar a ordem de prisão preventiva contra os suspeitos.
Em seu despacho, Moro entendeu que Cintia estava motivada "aparentemente por ressentimento em relação à empresa", que a teria demitido ano passado. No entanto, ressalta que isso não retira o crédito do seu testemunho, que teve as informações cruzadas com levantamentos da Receita Federal. A checagem das informações corroborou a versão de Cintia. Nesta sexta-feira, o advogado da Arxo, Leonardo Pereima, disse que a denúncia da ex-funcionária era "fruto de revanchismo e vingança".
"O relato de Cintia Provesi Francisco (...) encontra amparo parcial em documentos por ela apresentados e também na prova colacionada pelo Ministério público Federal, com destaque para os resultados da quebra fiscal", escreveu o juiz no documento.
A reportagem do DC conseguiu ainda localizar uma das advogadas de Cintia, Gisele Pakulski Oliveira de Ramos. Ela informou que não trabalha com questões criminais e não poderia comentar o caso por desconhecer qualquer envolvimento da cliente com a Operação Lava-Jato.
Lava Jato em SC
Depoimento de testemunha-chave levou à prisão de executivos da Arxo
Ex-funcionária da empresa denunciou como funcionava esquema de propina e lavagem de dinheiro
GZH faz parte do The Trust Project