Uma cena de luta pela vida e compaixão entre os animais comoveu um morador de Lages, na Serra Catarinense. Funcionário da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) há 10 anos, ele está acostumado a ver bichos de várias espécies diferentes todos os dias. Mas o que ele presenciou essa semana ficará para sempre em sua memória.
Robson Anadon, 40, é auxiliar administrativo da estatal. Da janela da sala onde trabalha, no alto do Bairro Morro do Posto, tem uma vista privilegiada da cidade, com a imponente Catedral ao fundo, e quase que diariamente se encanta com as belas imagens do dia a dia lageano. Só que a mais recente cena que chamou a atenção de Anadon pela mesma janela foi bem diferente de tudo o que ele já viu na vida.
Era manhã de terça-feira quando ele chegou ao trabalho e logo avistou uma égua caída num canto do terreno ao lado, pertencente ao Centro de Tradições Gaúchas (CTG) Barbicacho Colorado, um dos mais importantes do Estado.
Anadon percebeu que a égua estava bastante debilitada e sequer conseguia se levantar. Isso já seria o suficiente para comovê-lo, até ver que, ao lado da égua, um pequeno cão fazia de tudo para ajudar o equino. Obviamente, o cachorrinho não obteve sucesso, mas Anadon se emociona ao lembrar da luta do pequeno canino para tentar salvar a vida da égua.
- Ele mexia na égua como se estivesse tentando levantá-la. E como viu que não ia conseguir, deitou-se ao lado dela e não saiu em nenhum momento.
Aflito com a luta da égua pela vida e o desespero do cãozinho, Anadon pulou a cerca que divide os terrenos da Epagri e do CTG e tentou, sozinho, levantar a égua, mas a manobra também foi em vão.
- Por duas vezes ela tentou se erguer quando eu estava abraçado ao pescoço dela. Tentei ajudar empurrando pelas costas e apoiando nas minhas pernas, mas não deu.
O veterinário Vilmar Francisco Zardo, chefe da Estação Experimental da Epagri, ofereceu ajuda a um funcionário do CTG, mas a égua já estava sendo atendida por outro profissional da área.
O responsável pelo setor campeiro do Barbicacho Colorado, Jedson Delfes de Moraes, explica que a égua sofria de tétano e por isso mal conseguia se mexer. Um veterinário do CTG prestou todo o atendimento necessário e possível para salvar o animal, que sequer podia ser retirado do local onde estava deitado devido à fragilidade do seu corpo com mais de 500 quilos.
E enquanto a ciência não conseguia salvar o equino, da raça quarto-de-milha, o cachorrinho herói tentava fazer a sua parte, tanto que permaneceu ao lado da égua entre a manhã de terça e a tarde de quarta-feira, quando ela já não havia resistido à doença que deu fim à sua vida.
Desconhecido e despercebido, cãozinho herói provavelmente vive na rua
Com a retirada do corpo da égua para ser incinerado, o cachorrinho foi embora e não mais apareceu. Ninguém soube dizer de onde veio e para aonde foi, pois nunca tinha sido visto - ou pelo menos notado - por ali.
A reportagem do DC circulou pela região, conversou com algumas pessoas, mas também não obteve nenhuma pista. Provavelmente seja um cão de rua, sem um lar, alimentação decente e carinho. Mas de uma coisa, Robson Anadon, principal testemunha dessa história, tem certeza.
- Eu comecei a conversar com a égua e uma lágrima escorreu pelo olho dela, como se estivesse pedindo ajuda. Foi triste. Gosto muito de bicho, e pelo menos eu a confortei da maneira que pude. Mas o verdadeiro herói foi o cachorrinho, que lutou pela vida da égua e não a abandonou até o fim.
Compaixão animal
Cachorro tenta salvar égua e emociona morador de Lages, na Serra Catarinense
Cena registrada em um terreno comoveu servidor da Epagri, que acompanhou a luta pela vida
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