Compilar um dicionário com quase todas as palavras da língua inglesa foi um empreendimento típico da era vitoriana com tudo que tinha direito, senhores de barba branca, profunda confiança e um ritmo bastante lento. Passado um quarto de século, surgiu a primeira parte em 1884. O conteúdo? "De A a Ant".
Em nossa era impaciente, o Oxford English Dictionary (OED) prepara uma terceira edição, com 619 mil palavras definidas até agora, atualizações online a cada três meses e uma torrente permanente de dados digitais a classificar. Barbas grisalhas são raras hoje em dia bem como seu escritório sem divisórias, com apenas editores sérios franzindo a testa diante de telas planas, ocasionalmente sussurrando aos vizinhos. Com todas as palavras que existem aqui, poucas são faladas em voz alta.
Tirando esse silêncio, a mudança está em andamento no OED. Pela primeira vez em 20 anos, o dicionário venerável tem um novo editor-chefe, Michael Proffitt, que assume a responsabilidade de manter as tradições louvadas e de garantir a relevância em uma era de definições feitas pelo Google e do internetês.
Em sua primeira entrevista desde que assumiu o posto em novembro, Proffitt, do alto de seus 48 anos, de terno e gravata, que define, pesquisa e administra para o OED desde 1989, se mostrou respeitoso em relação à tradição, mas igualmente pronto a reconsiderar o dicionário, o qualificando menos como os tomos pesados de outrora e mais como um tesouro de dados inestimáveis.
- Minha ideia sobre dicionários é de que, de certa forma, seu tempo chegou ao fim. As pessoas precisam de filtros muito mais do que no passado. Por mais que eu concorde com a reputação pública do OED, eu quero provar que ele é valioso para as pessoas em termos de uso prático - ele disse.
Proffitt defende links na literatura digitalizada nos verbetes do OED; ele quer mais uso por estudantes, cuja distinção entre "dicionário" e "busca na internet" é cada vez menor; ele também está disposto a licenciar os dados do OED a outras empresas.
O OED se destacou em parte por definições consagradas, mas em grande medida por suas citações históricas inigualadas, que acompanham o uso ao longo do tempo. A primeira edição, proposta em 1858 com finalização prevista em dez anos, só foi terminada 70 anos mais tarde, em 1928. A segunda edição saiu em 1989, somando 21.730 páginas. O trabalho na terceira edição começou em 1994, com esperanças de término em 2005. O prazo estava ligeiramente incorreto - por volta de 32 anos, segundo o palpite atual de 2037.
Porém, com todo o rigor admirável do OED, hoje em dia o dicionário é provavelmente mais reverenciado do que usado. Parte do problema advém do preço. Os vintes volumes da segunda edição custam US$ 995; a assinatura digital de um ano custa US$ 295 - uma venda complicada quando tantas ferramentas de pesquisa na internet são gratuitas. A Oxford University Press oferece gratuitamente online um primo menor do OED, sob o título confusamente similar de Oxford Dictionaries.
Embora o OED tenha sobrevivido aos tumultos da internet que devastaram outras obras de referência, ele ainda precisa capitalizar por inteiro o potencial do público online. Proffitt está ansioso em fazer isso, talvez com preços menores, certamente com ajustes no site e definições menos conservadoras.
- Diversos dos primeiros princípios do OED continuam de pé, mas a forma como ele se manifesta precisa mudar e, também, a forma pela qual chega às pessoas - afirmou Proffitt, que fala com um leve sotaque escocês e um hábito de lexicógrafo de pontuar a fala com subtítulos, referências históricas e significados alternativos.
Contudo, ele está longe de ser o acadêmico de antigamente, referindo-se com satisfação a ter esboçado o verbete "phat": "a. De uma pessoa, especialmente uma mulher, sexy, atraente. b. Especialmente de música: excelente, admirável; na moda, 'bacana'.
Criado em Edimburgo, Escócia, Proffitt veio para o sul estudar na Universidade de Oxford, onde se formou em Língua e Literatura Inglesa. Após se formar, ele passou de emprego a emprego durante um tempo, até ver um anúncio no jornal: o OED estava contratando. Os editores que o interrogaram durante a entrevista de emprego confessaram mais tarde que não esperavam que ele ficasse muito tempo.
- Porém, isso me atraiu - Proffitt contou 25 anos mais tarde, agora no comando de uma empresa bastante diferente daquela na qual entrou.
Com toda essa conversa técnica, certos modos analógicos ainda continuam no dicionário, notavelmente na Sala de Citações, um depósito de citações de palavras em pequenas tiras de papel, muitas enviadas décadas atrás por voluntários do mundo inteiro, o mais prolífico dos quais é identificado pela caligrafia distinta e citado carinhosamente pelos editores: "Esse é do Laski" ou "Ou este é de Collier, na Austrália".
No século XIX, o maior obstáculo para compor o dicionário ambicionado de "todas as palavras citadas na literatura do idioma que pretende ilustrar" era registrar citações adequadas, pois elas estavam escondidas em miríades de volumes empoeirados. Hoje em dia, a equipe editorial com perto de 70 pessoas - e acesso a grandes arquivos digitais - lida com o problema oposto: informação demais.
- Nós podemos ouvir tudo que está acontecendo no mundo do inglês dos últimos 500 anos, pois o ruído é ensurdecedor - afirmou o editor associado Peter Gilliver, que já passou nove meses revisando as definições da palavra "run", atualmente o verbete mais longo do OED.
Os textos literários representavam a maioria das citações dos primeiros tempos do dicionário, mas o texto atual é muito inclusivo, com postagens de blogs e Twitter, citações de lápides, uma inscrição em um livro de formandos do ensino médio. O objetivo é encontrar os usos mais antigos e explicativos de uma palavra, não conceder a bênção a qualquer coisa como "inglês adequado". Sempre que comentaristas criticam o OED por admitir gíria adolescente ou jargão do marketing, eles entendem errado o dicionário, que busca não definir como o idioma deve ser usado, somente como é utilizado.
Simon Winchester, autor de dois livros sobre o OED, incluindo o best-seller, de 1998, "O professor e o demente: Uma história de assassinato e loucura durante a elaboração do dicionário Oxford", expressou sentimentos ambíguos quanto à rápida digitalização do dicionário. Por exemplo, ele esperava que a terceira edição fosse impressa um dia, embora tenha admitido que somente consulte a versão online hoje em dia.
- Para mim, eu não quero a alegria do OED e sua autoridade sendo sobrepujadas pelas capacidades e os motores de busca e assim por diante.
Ao assumir o mais estimado registro do idioma mais global de todos, Proffitt pode enfrentar críticas enquanto atua. Alguns vão reclamar se ele mudar, enquanto outros se queixarão por não mudar. Todavia, os anos de trabalho com as palavras - trocas de significados, acréscimos, desaparecimentos, além de novas criações - ofereceram uma perspectiva particular.
- Grosso modo, você fica mais tolerante, calmo ou plácido. Eu não sei qual dessas palavras é a apropriada. Porém, ver o contexto histórico muitas vezes o convence de que o que parecia uma regra rigorosa não é nada disso. E, de forma similar à maneira pela qual a língua muda, seus usos também se alteram. Quanto mais flexíveis as pessoas forem quanto ao uso do idioma, mais, provavelmente, vão se destacar - ele disse.
Verbetes renovados
Na Era Digital, dicionário de Oxford encontra desafios para montar sua terceira edição
O trabalho, sob o comando de um novo editor-chefe, começou em 1994 e tem como previsão de término 2037
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