Neste verão, até segunda-feira, 51 pessoas morreram em rios, açudes, lagoas, cachoeiras e praias de mar sem cobertura da Operação Golfinho.
Em igual período do ano passado, a operação havia registrado 32 óbitos nas mesmas áreas. O aumento foi de 59%.
Cristian Barcelos Zarnott, goleiro que acabara de entrar no Brasil de Pelotas, é uma dessas vítimas. O garoto de 17 anos não sabia nadar e morreu domingo, na praia do Cassino, no Litoral Sul, em uma área sem cobertura de salva-vidas. Outros três amigos de Cristian foram salvos, e os familiares - embora os bombeiros não confirmem - dizem que um terceiro homem entrou para tentar salvar a vida do jogador. O herói seria a 50ª vítima, Marco Aurélio Fogaza Brum, 44 anos.
- As pessoas querem salvar na boa-fé, mas, como não têm o treinamento necessário, acabam se afogando junto - ressalta o major Julimar Fortes, chefe de operações da 44ª Operação Golfinho, iniciada em 21 de dezembro.
José Dilário Zarnott, 39 anos, estava orgulhoso do filho. Olhando as fotos no Facebook, percebeu que, de um grupo de amigos, somente Cristian e mais um não tinham se envolvido com o tráfico de drogas. Era um garoto estudioso, que havia se formado no colégio uma semana antes. O convite para a cerimônia pendia nas mãos do pai, enquanto escutava a história de uma ex-namorada que veio chorar com o ex-sogro:
- Acho que ele sabia que ia morrer. Ficou mandando mensagem para os amigos, pedindo desculpa por qualquer coisa, agradecendo pela amizade - disse a menina.
A carreira nos campos se iniciou aos 11 anos, quando Cristian foi incentivado pelo pai, frentista, que um dia também sonhou ser jogador. Começou no Galera Gremista do Fragata e, em 2011, passou para o Progresso Futebol Clube, ambos em Pelotas. Não demorou para passar nos testes da dupla Bra-Pel. No ano passado, jogou no Pelotas como sub-17 e foi destaque em uma partida contra o Grêmio. Tinha acabado de passar nos testes para o Brasil e estava havia uma semana no clube, como sub-20. Queria chegar até o seu time de coração, o Internacional, para depois conquistar a Seleção Brasileira, assim como seu ídolo, Júlio César.
- Ele tinha um futuro promissor - garante o coordenador de base do Pelotas, Marcelo Chamega.
Vaidoso, Cristian arrumava o cabelo com gel, mesmo antes dos jogos. Usava muito perfume.
- A gente até brincava com ele: "Vai te associar numa empresa de sabão em pó". Usava a roupa uma vez e já botava para lavar - recorda Zarnott.
Tenha cuidado
- Em riachos, açudes, rios, lagos, lagoas e córregos, evite saltos e mergulhos, principalmente se a água for turva e impedir que se enxergue o fundo. Pode haver pedras e obstáculos, com risco de lesões. Informe-se sobre profundidade e correnteza.
Verão perigoso
Mortes na água aumentam 59% em áreas sem presença de salva-vidas
Levantamento da Operação Golfinho registra, em um mês, 51 vítimas de afogamento em rios, açudes, lagoas, cachoeiras e praias de mar
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