O conflito agrário em Vicente Dutra teve um novo e tenso capítulo na manhã desta sexta-feira. Agricultores, moradores da área urbana na cidade e comerciantes participaram de um protesto em frente ao balneário Águas do Prado e depois tentaram desbloquear uma estrada do interior bloqueada há três dias por indígenas.
Conforme a Brigada Militar do município, cerca de 200 pessoas participaram do ato. Na noite de quinta-feira, o mesmo grupo retomou a posse do balneário, que tinha sido invadido por índios na quarta-feira, em uma ação que terminou em agressão e incêndio de dois escritórios comerciais.
Depois do protesto, eles resolveram ir até uma estrada de chão, que dá acesso à área indígena e à uma comunidade rural, e tentaram desbloquear a rodovia armados com pedaços de madeira e pedras. Os índios bloquearam a passagem pela via na quarta-feira, com galhos e pedras, e seguem no local.
A Brigada Militar acompanhou o confronto. Segundo a polícia, os índios afirmaram que não irão desbloquear a estrada até que as lideranças do grupo se reúnam com a Fundação Nacional do Índio (Funai). O encontro está marcado para às 14h desta sexta-feira, no Ministério Público Federal de Passo Fundo. Houve muita tensão, mas depois do meio-dia os grupos se dispersaram, conforme a polícia.
O conflito agrário em Vicente Dutra
- A área já declarada como indígena Rio dos Índios possui 715 hectares em Vicente Dutra, no norte do Estado.
- Dentro da área, há um balneário de águas termais, o Termas Minerais Águas do Prado, que ocupa cerca de 25 hectares. O local possui 196 cabanas construídas e recebe cerca de 20 mil visitantes por ano.
- Além do balneário, a área também abrange 68 pequenas propriedades rurais, de cerca de 10 hectares cada.
- Conforme o coordenador da Fundação Nacional do Índio (Funai) em Passo Fundo, Roberto Perin, a área também já foi demarcada e, em 2012, foi realizado o levantamento fundiário das benfeitorias que precisam ser indenizadas.
- Após as indenizações e a desocupação da área, Perin explica que a terra precisa ser homologada e regularizada para tornar-se oficialmente indígena.
A disputa no Estado
- Em todo o Estado, os indígenas reivindicam 100 mil hectares em novas áreas e ampliações de propriedades já delimitadas.
- O Rio Grande do Sul é o Estado que apresenta o maior número de áreas indígenas sujeitas a conflito no país, conforme um levantamento do Conselho Indigenista Missionário (Cimi).
- O relatório demonstra que 17 dos 96 territórios classificados como em situação de risco ou conflito estão localizados em solo gaúcho, o que representa 17,7% do total nacional.
- A tensão em uma destas áreas, localizada em Sananduva e Cacique Doble, no norte do Estado, onde índios e agricultores disputam 1,9 mil hectares, motivou a criação de uma mesa de diálogo com mediação do Ministério da Justiça.
- A mesa busca encontrar uma solução pacífica para o conflito, que motivou este ano uma briga generalizada. Quatro pessoas ficaram feridas e tiveram de ir ao hospital.
Mais confusão
Agricultores tentam liberar estrada bloqueada por índios e conflito fica mais tenso em Vicente Dutra
Índios afirmaram que a rua ficará interditada até que as lideranças se reúnam com a Funai
Fernanda da Costa
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