A amizade entre Washington Couto da Rosa, 83 anos, e o seu fiel companheiro, um vira-lata de nome "Urso", foi colocada à prova nesta segunda-feira. Sem condições físicas de levar o cachorro no colo por um longo caminho em meio às ruas alagadas do bairro Navegantes, um dos mais atingidos pela enchente que deixou 313 pessoas desabrigadas em São Sebastião do Caí, o idoso aguardou o socorro ao lado do cão por intermináveis dois dias.
Sem saber a quem poderia recorrer, o senhor de 83 anos, que pensou que a sua família viria ajudá-lo a sair de casa junto com o animal, abrigou o cachorro em meio ao vento, frio e chuva incessante, que já adentrava a sua residência.
- Eu não queria sair sem o Urso. Eu tenho ele há seis meses apenas, mas é o meu único companheiro na casa. Não poderia abandoná-lo - disse Couto da Rosa, que já morou na Fronteira e, ultimamente, vivia em Rio Grande, antes de mudar-se para São Sebastião do Caí há pouco mais de um ano.
A equipe de Bombeiros voluntários de São Sebastião do Caí respondeu a um chamado da família do idoso, que mora na cidade vizinha de Harmonia, e foi resgatá-lo. Caso a espera fosse maior, Washington Couto da Rosa não resistiria, segundo o comandante operacional da corporação no município, Anderson Jociel da Rosa.
- A água já estava no joelho desse senhor. Ele estava fraco, com muito frio e abraçado com o cachorro. Nós o trouxemos rapidamente para a nossa central de resgates. Colocamos um cobertor nele, e já providenciamos a sua internação no Hospital Sagrada Família - recordou Rosa.
Com hipotermia, Couto da Rosa foi internado, ainda trôpego, em virtude das horas que ficou com a água corrente em suas pernas, e triste pela perda de seus poucos bens.
- Ele estava combalido emocionalmente e com "geladura", que é o termo técnico que nós usamos. Tinha vindo morar na cidade há pouco tempo, para ficar perto das filhas. Ele não sabia que São Sebastião do Caí tinha esse problema enorme com as enchentes. Estava chateado porque tinha perdido tudo o que tinha - explicou o médico que atendeu o paciente, Ricardo Fernando Jantzen.
Após chegar no início da tarde no hospital, o homem de 83 anos foi liberado às 16h e levado pela prefeitura para a casa de suas duas filhas em Harmonia. Quando chegou, ele só queria uma coisa.
- Quero tomar um banho muito quente. Agora que sei que o Urso está bem, posso descansar e tomar uma canja - concluiu, sabendo que o cão está no abrigo improvisado de cães resgatados do Parque Centenário, organizado pela ONG Vira-Lata da Net.
Doação
A Defesa Civil de São Sebastião do Caí está otimista para os próximos dias. A previsão é que as chuvas cessem, e o nível do rio Caí diminua ainda mais. Nesta segunda-feira, o nível baixou de 13,9 metros para 13,8 metros. A cidade tem 758 pessoas desalojadas, além de 313 desabrigadas. Um total de 368 residências foram danificadas pela forte chuva. A prefeitura tem três locais para abrigar as famílias que não tem para onde ir: Parque Centenário, Comunidade Católica do Bairro Rio Branco e Associação de Moradores do Bairro Quilombo. Doações de cobertores, roupas, sapatos e mantimentos devem ser encaminhadas para o Salão Paroquial da Comunidade Católica. Maiores informações através do número 51-36351012.
Enchente no Vale do Caí
Idoso tem hipotermia depois de se recusar a sair de casa sem o cachorro em São Sebastião do Caí
Homem de 83 anos foi internado com "geladura" após esperar socorro chegar para recolher o seu animal de estimação
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