No período do ano em que os hospitais mais recebem crianças com problemas respiratórios e que precisam, em casos mais graves, serem internadas, a saúde no Vale do Sinos sofre um revés importante. A única UTI pediátrica da região, que funciona no Hospital Regina, em Novo Hamburgo, fechará as portas a partir do início de agosto e não há expectativa de reabertura, segundo confirmou a assessoria de imprensa da unidade. O motivo alegado pela direção do hospital é a falta de oferta de médicos pediatras intensivistas no Estado.
Os quatro médicos foram responsáveis por 117 internações desde o início do ano. No ambulatório pediátrico, entre junho e setembro, o pico de atendimento chega a casa de 1800 pacientes ao mês. No restante do ano, a média gira em torno de 1000 pacientes mensais. O número ideal de médicos pediatras intensivistas, conforme a própria direção do hospital admite, é o dobro: oito. A justificativa de crise no aspecto mercadológico foi rebatida pelo presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul, Paulo de Argollo Mendes.
- A maioria dos hospitais quer remunerar o profissional especialista como um recém-formado. O pediatra intensivista estudou pelo menos 11 anos para se formar nessa área. São quase duas faculdades de medicina inteiras. Ele deveria ganhar pelo tempo de estudo e pela sua especialização - disse Mendes, comparando o fato de que o piso salarial da categoria para 20 horas é de R$ 10 mil e o salário oferecido por boa parte dos hospitais do Estado.
A Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul também não entendeu o motivo alegado pelo Hospital Regina de que não conseguem encontrar profissionais especialistas nessa área.
- Todas as vagas oferecidas para a residência em pediatria são preenchidas. Eu própria sou pediatra intensivista do Hospital de Clínicas, e o que posso te passar é que o principal problema é o salário ofertado aos médicos especialistas. Agora, quem sofre é essa população, que vai ter que se deslocar até Porto Alegre para receber um tratamento adequado - comenta Patrícia Miranda do Lago, presidente estadual da Sociedade de Pediatria e uma das 234 pediatras intensivistas do RS.
Como a UTI pediátrica do Hospital Regina é exclusiva para convênios e particulares, Paulo de Argollo Mendes acredita que muitos hospitais, dentre eles a unidade de Novo Hamburgo, estejam atingindo o seu limite de capacidade de atendimento. O principal problema seria a oferta por planos de saúde.
- Cada vez mais surgem empresas que oferecem planos de saúde por telefone ou pessoalmente. Um dos maiores objetivos da pessoa que começa a ganhar um dinheirinho a mais é pagar um plano, pois consultar pelo SUS é um problema. Os hospitais privados estão ficando superlotados - avalia o mandatário.
No Estado, há, segundo informações da Sociedade de Pediatria do RS, 33 UTIs pediátricas. No Vale do Sinos, nem mesmo os hospitais públicos Municipal, de Novo Hamburgo, e Centenário, de São Leopoldo, possuem esse serviço. Através da assessoria de imprensa, o Hospital Regina, mantido pela Associação Congregação de Santa Catarina, não quis revelar os valores pagos aos atuais médicos pediatras intensivistas nem o ofertado no mercado. Comentou apenas que os médicos são contratados de forma terceirizada e que podem trabalhar em regime de 12 horas com folgas de 48 horas.
NÚMEROS
- Existem 234 médicos especialistas no Estado;
- Há 33 UTIs pediátricas no RS;
- Os médicos demoram, no mínimo, 11 anos para adquirirem a especialização nessa área;
- Hospital Regina, em Novo Hamburgo, é o único no Vale do Sinos a possuir esse serviço;
- Na UTI pediátrica do Regina houve 117 internações desde janeiro deste ano;
- São quatro os médicos pediatras intensivistas na unidade hospitalar. O recomendado é oito;
- Os atendimentos no ambulatório pediátrico chegam a 1800 por mês.
Crise na saúde
Única UTI pediátrica do Vale do Sinos fechará indefinidamente a partir de agosto
Falta de médicos especialistas e a alta demanda de inverno são as razões apresentadas pelo Hospital Regina, maior hospital privado da região, a cerrar as portas; Simers acusa hospitais de oferecerem salário de recém-formado para especialistas
GZH faz parte do The Trust Project
- Mais sobre: