Agitada, Terezinha Pereira Hoscheidt, 69 anos, fazia os últimos ajustes na decoração da igreja e na roupa dos netos. Ia do altar à entrada inúmeras vezes, em um passo rápido e nervoso. Tudo tinha de estar impecavelmente arrumado, afinal, em minutos, seis dos 13 filhos dela casariam ali.
A celebração movimentou Não-Me-Toque, cidade de 15,9 mil habitantes no norte do Estado, na noite de sábado. Além dos 400 convidados, curiosos se reuniram em frente à Igreja Matriz, à espera dos noivos. Há três anos, três das irmãs Hoscheidt decidiram casar em uma mesma celebração. O casamento, no entanto, teve de ser cancelado. A morte do pai, que sofria com problemas no coração, desanimou as mulheres, mas não apagou o sonho de estarem lado a lado no altar.
No ano passado, em um almoço de família após o Natal, Jocelaine, 27 anos, decidiu retomar o planejamento. Risonha, ela conta que disse aos irmãos que casaria em 2013 e, se alguém quisesse, que casasse junto. As irmãs Clotilde, 40 anos, e Maria Izabel, 37, toparam no mesmo dia. Depois, os irmãos Adelar, 32, Josemar, 29, e Gilmar, 26, decidiram acompanhar mulheres.
Desde então, o casamento conjunto transformou-se no principal assunto da família. Igreja, ensaios, decoração e festa. Tudo tinha de ser decidido em grupo. Até detalhes, como os acessórios das noivas, era debatido.
- Uma queria usar véu, então decidimos que todas tinham de usar - relembra Jocelaine.
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A mãe relata que, para evitar brigas, os filhos decidiram por sorteio a ordem de entrada dos casais na igreja. E a vencedora foi justamente a que mais teimou para ser a iniciante: Jocelaine. Dona Terezinha lembra que chegaram a ser feitos dois sorteios, e nas duas vezes ela foi a primeira da ordem. Para a noiva, entrar na igreja foi o momento mais lindo de toda a celebração.
Até o padre se emocionou com o casamento. Esta foi a primeira vez, em 26 anos de sacerdócio, que o frei Leopoldo Frankowski uniu seis casais em uma mesma celebração. O altar ficou pequeno diante de tantos noivos e os padrinhos tiveram de sentar nos primeiros bancos.
- Tivemos que usar a criatividade, principalmente no momento dos votos - relata.
O padre fazia as perguntas para todos e, depois, passava de noivo em noivo para ouvir a resposta. Só depois de escutar "sim" doze vezes, era possível prosseguir com a celebração.
O mais nervoso dos filhos de Terezinha era Adelar. Ele revelou que só foi possível entrar na igreja depois te der tomado calmante, mas que nem isso aliviou o tremor nas pernas:
- Ainda bem que tinha água lá na igreja, estava com a garganta seca antes de começar, foi o que me salvou.
Para Terezinha, o momento mais emocionante do casamento dos filhos foi o beijo.
- Ver seis beijos ao mesmo tempo no altar foi muito lindo. Agora só falta casar mais um - comenta orgulhosa, ao ter doze dos 13 filhos casados.
Os casais
- Adelar Pereira Hoscheidt, 32 anos, e Kellyn Gomes Hoffmann, 30. Estão juntos há três anos e não têm filhos.
- Josemar Pereira Hoscheidt, 29 anos, e Danusia Xavier Donatti, 28. Têm um filho, Guilherme, de três anos.
- Gilmar Pereira Hoscheidt, 26 anos, e Josiane da Silva, 25. Namoravam há nove anos e não têm filhos.
- Cristiano de Souza Polippo, 35 anos, e Clotilde Pereira Hoscheidt, 40 anos. Juntos há 16 anos, têm uma filha de nove, Ana Virgínia.
- André Luis Demichei, 40 anos, e Maria Izabel Pereira Hoscheidt, 37. Namoravam há 11 anos e têm uma filha, Vitória, de três anos.
- Wilian Kleber Marinho Fagundes, 32 anos, e Jocelaine Pereira Hoscheidt, 27 anos. Estão juntos há quatro anos e têm um filho, Pedro Henrique, de um ano e nove meses.
Fotos: Diogo Zanatta, Especial
Chuva de arroz
Seis irmãos casam juntos em Não-Me-Toque, no norte do Estado
Casamento seria realizado há três anos, mas a morte do pai fez os filhos cancelarem a celebração
Fernanda da Costa
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