Jogar futebol, além de uma paixão, é uma vitória para o pequeno Matheus Bitencourt Lazaretti, morador de Bagé, na Campanha.
Prestes a completar sete anos, em 11 de abril, o colorado fanático tem um motivo a mais para comemorar: a infância saudável. Ele foi o primeiro bebê a sobreviver a um transplante de coração no Estado.
Vê-lo crescendo com saúde é uma emoção diária para a mãe Cristina Barcelos Bitencourt, 42 anos. Ela conta que passou por momentos de desespero quando o filho estava na lista de espera por um coração, mas que nunca deixou de acreditar na recuperação do menino.
- Rezei muito para que ele se salvasse. Sabia que conseguir um doador era difícil e que a cirurgia era muito delicada, mas nunca deixei de lutar por ele.
A doença rara foi descoberta quando o menino tinha cerca de quatro meses. Ao perceber o esforço gigantesco do bebê para mamar, a manicure procurou ajuda.
Peregrinou com o menino por vários consultórios médicos até descobrir, três meses depois, que o filho sofria de miocardiopatia hipertrófica. A doença provoca o aumento na espessura das paredes do coração e causa a obstrução na passagem do sangue.
- Ele tinha dificuldades para respirar e mamar ao mesmo tempo. Mesmo quando estava quente, ficava com os pés e as mãozinhas geladas, o que me assustava muito - recorda.
O coração do menino não tinha capacidade suficiente para irrigar os outros órgãos, e os médicos afirmaram que uma cirurgia, além de ter alto risco, não seria solução definitiva para o problema. O único caminho para Matheus ter uma vida normal era um transplante.
O pequeno ficou 16 dias na fila de espera até que uma ligação mudou o ânimo da família: ele receberia um coração saudável de um doador. Os pais de uma criança de Caxias do Sul, que teve morte cerebral aos dois anos, autorizaram a doação.
Aos sete meses, Matheus foi submetido ao delicado procedimento. Antes, apenas outros três recém-nascidos tiveram corações doentes substituídos no Estado. Nenhum deles resistiu ao pós-operatório.
- Tive muito medo de que o pior acontecesse, mas graças a Deus o Matheus está aqui, com saúde e brincando.
Criança é apaixonada por dinossauros
No colégio, Matheus Bitencourt Lazaretti tem o futebol como atividade preferida. A mãe relata orgulhosa que ele já sabe escrever o nome, arrisca as primeiras palavras e até faz pequenas contas. A segunda paixão do garoto - depois do Inter - são os dinossauros. Matheus tem fascínio por tudo que tem relação com os animais pré-históricos, desde miniaturas até jogos e livros.
- Tenho vários DVDs de dinossauros - conta animado, referindo-se aos filmes que guarda no quarto, organizados com o cuidado de um colecionador.
Vaidoso, o menino só sai de casa muito bem arrumado. As roupas, segundo a mãe, são dobradas pelo próprio menino e organizadas com cuidado no armário. Não poderia ser diferente. Depois do transplante, ele se acostumou com os holofotes. Por representar um marco na medicina gaúcha, foi convidado para participar de campanhas de doação no Estado e no país.
Hoje, o guri leva uma vida normal, mas precisa ir à Capital de três em três meses para exames de revisão. Apesar das dificuldades financeiras, a mãe revela que tem um cuidado especial com o caçula de três irmãos. Os produtos de higiene que compra para ele são de melhor qualidade, e a alimentação é monitorada regularmente.
- Pode faltar tudo para mim, mas para o Matheus não falta nada. Ele teve anemia algumas vezes, não dá para descuidar - afirma a manicure.
O desejo dela é contar com ajuda para dar uma festa de aniversário com direito à decoração ao pequeno. No ano passado, a situação econômica da família permitiu que o menino comemorasse os seis anos apenas com um bolo de presente.
Garoto-propaganda da doação
- Com um ano e cinco meses, Matheus virou símbolo de uma campanha nacional de incentivo à doação de órgãos do Ministério da Saúde. Um cartaz com a foto do gauchinho foi distribuído por todo o país.
- Até hoje, o menino é convidado para participar de campanhas no Estado. Chegou a viajar para Brasília e São Paulo para divulgar a importância da doação.
Transplantes em números*
- Em 2012, foram realizados 1.783 transplantes no Estado, 2,6% a mais do que em 2011, que registrou 1.737.
- Já o número de transplantes de coração permaneceu estável. Foram realizados 11 procedimentos em 2012, mesma quantidade do ano anterior.
- Atualmente, 1.354 pessoas estão na lista de espera por transplantes no Rio Grande do Sul. Treze aguardam por um coração saudável.
*Fonte: Central de Transplantes do Estado
Pequeno pioneiro
Primeiro bebê gaúcho a sobreviver a um transplante de coração fará sete anos
Após cirurgia, Matheus virou símbolo de campanha nacional de incentivo à doação de órgãos
Fernanda da Costa
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