A população de 23 mil habitantes não resiste à sua lábia.
Mateus Friedrich Barreto, 20 anos, estudante de jornalismo e estagiário da Câmara Municipal de Vereadores jura que não conta para ninguém o que escuta. Mas não acredite. Ocupa o dia inteiro espalhando as últimas pelas redes sociais, praças e restaurantes.
É o maior fofoqueiro da paróquia. Até os taxistas invejam seus mexericos.
É por ele que o morador sabe quem está grávida, quem traiu quem, quem brigou, quem foi demitido, quem chorou.
A simpatia e a aparência ingênua desarmam qualquer crítica e alimentam a reincidência das confissões.
- Por mais que a gente tenha noção de que sua natureza é passar adiante, voltamos a nos confidenciar com ele porque é um amigo que tem prazer de nos ouvir - afirma a jornalista Camila Gonçalves, 25 anos.
Mateus se tornou um especialista dos bastidores, araponga emocional. Tem uma legislação própria. Não inventa em cima dos fatos, recusa ironia e sarcasmo que distorcem o comentário e descarta maledicências (intriga e picuinha) de gente que pretende se beneficiar da destruição de reputações.
- Meu papel é ajudar os tímidos a se expor, jamais ferrar alguém - graceja.
Ele aliou o sistema presencial (participar de rodas de chimarrão, sentar na varanda, conversar em supermercado e ter fofoqueiros filiais em cada bairro) com instrumentos virtuais de mensagens (Twitter, Facebook, Orkut e Foursquare).
Sua vocação reivindica exclusividade. Ele frequenta as festas de aniversário, bate o cartão em coquetéis e cerimônias oficiais, espia a movimentação de bares e cafés. Sua língua ferina não poupa ninguém, das autoridades aos colegas:
- Só o morto tem vida privada.
A receita de sucesso é largar uma novidade e não tocar mais no assunto. Uma pedrada certeira para o círculo de voz crescer até o infinito. O bom fofoqueiro planta a semente e some, não fica se vangloriando da descoberta.
A recompensa do trabalho é ouvir de volta, como se fosse novo, algo que ele mesmo espalhou:
- Alegria mesmo quando uma fofoca retorna e quem me conta não tem ideia de que fui eu a origem de tudo.
O apego pelo ti-ti-ti veio desde a infância, ao perceber que os familiares somente prestavam atenção nele quando abusava do suspense.
Mateus é um falso gago. Demora a falar de propósito, mostrando dúvida e hesitação. Finge que é um segredo para aumentar a curiosidade da vítima e fisgá-la para dentro da correnteza das histórias.
- Não sou mentiroso, sou exagerado, dramático, ansioso - explica.
Está convencido de que todo fofoqueiro é filho da cozinha:
- A fome nunca mente. Os escândalos podem ser feitos no quarto, mas é na mesa que eles aparecem.
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