A série Beleza Interior se propõe a mostrar, em todos os sábados de 2011, costumes e peculiaridades da vida dos gaúchos. Nesta edição, a cidade visitada é Guaporé, onde se concentram 150 fábricas de lingerie. A transformação da cidade em centro da moda íntima no Estado está mexendo com homens e mulheres.
Foi Gilberto Gil que descreveu Guaporé como refúgio ideal do amor, na canção Vamos fugir:
"Guaporé, Guaporé
Qualquer outro lugar ao sol
Outro lugar ao sul
Céu azul, céu azul
Onde haja só meu corpo nu
Junto ao seu corpo nu..."
Mas quem ficaria maluco com a cidade é Wando, célebre por receber calcinhas de suas fãs durante os shows.
Acesse www.facebook.com/belezainterior
Com 22 mil habitantes, distante 195 quilômetros da capital gaúcha, o município da Serra apresenta 150 fábricas de lingerie. É o maior polo de moda íntima do Estado e o segundo maior do país.
As peças femininas tomam os outdoors, mais de 40 pontos de venda e as rodas de conversa dos bares e restaurantes; é uma febre que não tem hora para terminar. Em 30 anos de atividade, a confecção já ameaça a liderança histórica da indústria joalheira.
Os homens estão seriamente assustados com a mudança dos costumes. Felizmente assustados.
- Toda noite é uma lingerie diferente da namorada - diz Marco Antonio Henz, 48 anos.
O código erótico passou a ser: "Tem lançamento, quer ver?"
- Sei de cor e antecipado o mostruário do inverno - suspira Henz.
Lojas contabilizam um aumento de 80% na saída dos produtos em janeiro e fevereiro. Juliana Fidarelli, 26 anos, desfalcou a vitrina da Elegance. Numa tarde, comprou 49 peças. Desfruta agora de um mês inteiro para fazer estreias.
- Sete dias da semana, sete modelos. Não dá para repetir - explica.
Noivas substituíram o tradicional chá de panela pelo chá de lingerie. Existe a prática de reservar lounges das principais marcas em datas festivas. Camisolas e pijamas ganham a preferência nos pedidos de amigo secreto. Estojos foram criados para sutiãs e calcinhas, a exemplo de instrumentos musicais, para que não sejam amassados em viagens.
O cabeleireiro Ampélio Zanchin, 72 anos, casado há quatro décadas com Virgínia Neli, 70 anos, festeja a nova compulsão de sua esposa.
- Melhor lingerie do que joias, estamos lucrando - avalia.
- Assim transformo o marido em eterno namorado - confessa Virgínia, que separa grande parte do salário para renovar o armário.
A professora de dança Fernanda Grando, 27 anos, é o maior exemplo do fanatismo. De manhã, não escolhe primeiro a roupa, define a lingerie para daí selecionar o resto. Roupas de baixo mandam nas de cima.
Ela possui mais de cem conjuntos. Destina duas gavetas enormes somente para os sutiãs. Uma delas é o purgatório, garantindo uma última chance a um item mais antigo.
- Tenho pena de jogar fora - afirma Fernanda.
Ao espalhar a coleção pela cama, desiste de contar. São tantos que poderia costurar um edredon com os bojos. Confia que o cuidado com a imagem aumentou também a exigência com a aparência do parceiro.
- Se o namorado vem com cueca velha, dorme na rua - avisa.
Fernanda não dispensa artimanhas para despertar a curiosidade do sexo oposto. Ao surgir no quarto com uma aquisição recente, nunca desfila ou dança.
- Mantenho a espontaneidade, leio um livro e testo se ele repara em mim ou não - revela.
Entende que se vestir é exercer a cidadania, apoiando o uso peculiar de um código de postura:
- Sutiã bege aparecendo é crime, passível de multa.
Nas residências de Guaporé, nenhum homem reclama das calcinhas no box do banheiro.
- Aqui pode! Porque revela nosso bom gosto.
Notícia
Beleza Interior: Paraíso de Wando
Fabrício Carpinejar
Enviar emailGZH faz parte do The Trust Project
- Mais sobre: