Alaor Azevedo, presidente da Confederação Brasileira de Tênis de Mesa (CBTM), queria ser o opositor de Carlos Arthur Nuzman na eleição presidencial do COB, mas não conseguiu. A tentativa frustrada de inscrever sua chapa causou polêmica e transformou-se em briga judicial.
O estatuto do COB determinava que a chapa tinha de ser inscrita até abril e precisava contar com assinaturas de apoio de 10 das 30 confederações esportivas. Azevedo argumentou, na Justiça, que seus colegas dirigentes ficariam constrangidos de lhe apoiar a poucos meses dos Jogos, por receio de alguma represália. O prazo de inscrição chegou a ser prorrogado por uma decisão liminar, que foi derrubada em agosto.
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Em entrevista a ZH, Azevedo critica a gestão de Nuzman a frente do COB e diz acreditar que essa última eleição deu indícios de seu desgaste político.
O que significa a reeleição de Carlos Arthur Nuzman para o esporte brasileiro?
Temos de respeitar a trajetória do Nuzman, que foi um grande dirigente, mas ele precisa se renovar. O COB precisa se modernizar. Existem um estudo internacional, chamado SPLISS, que considera nove pilares, desde a detecção de talentos, área financeira, entre outros, e compara 15 países democráticos. O Brasil é o 15º, o último lugar. Quem faz a gerência é o COB e o Ministério do Esporte eventualmente. Ano passado, um estudo de uma empresa catarinense sobre a governança, e aí leia-se transparência, também com 15 países, coloca o Brasil em 11º. Ou seja, estamos mal de transparência. No caso do SPLISS, o pior é que o Brasil está entre os cinco países que mais gastaram dinheiro neste ciclo olímpico.
O COB costuma dizer que potências como a Grã-Bretanha têm uma continuidade de altos investimentos por vários ciclos, algo que teria ocorrido no Brasil apenas nos últimos quatro anos.
A Grã-Bretanha, em Atlanta, quando o Nuzman já era presidente, estava no mesmo patamar do Brasil. De lá pra cá, o Brasil cresceu muito pouco e eles viraram essa potência. Não é por aí. Houve investimento maciço sem grandes resultados. Em algumas modalidades isso ficou mais flagrante, como na natação. Aí podem responsabilizar a confederação, mas ela está subordinada ao COB. Se for assim, não precisa existir o COB (risos).
Qual o peso do sistema eleitoral das entidades nesses problemas de gestão?
Eu acho, sim, que a governança precisa melhorar. Precisamos fazer um amplo estudo nesse sentido. No Comitê Olímpico e nas Confederações. As coisas estão associadas. Mas o mais importante desta assembleia é que mais pessoas não votaram a favor da chapa única. O número que sufragou o Nuzman, que normalmente é de 31, 32, foi de 24. Não é suficiente para ganhar uma eleição, mas é um aviso claro de que as coisas têm de mudar. É inacreditável que o Nuzman, depois de 21 anos de poder, é reeleito sem ter uma plataforma, sem um plano de governo.
O longo tempo de permanência de Nuzman a frente do COB é um dos pontos mais criticados de sua gestão. O senhor também está a frente de sua entidade desde 1995. Até que ponto a manutenção de dirigentes por tanto tempo prejudica o esporte brasileiro?
São duas coisas. O Nuzman fala sobre um ponto que ele tem razão. O dirigente esportivo tem uma dupla função. Uma é executiva, de cuidar do esporte no seu país, e a outra é legislativa, de representar o país em federações internacionais. Estes oito anos que a nova lei determina (a nova legislação prevê que os dirigentes não podem ultrapassar dois mandatos a frente de uma entidade), eu acho pouco. Dificilmente um dirigente consegue se estabelecer lá fora nesse tempo. Não teríamos força para trazer uma Copa do Mundo, Jogos Olímpicos, se o tempo fosse esse, e não estou aqui defendendo o Ricardo Teixeira. A experiência de outros países de limitação de mandatos nem sempre é positiva. Em Portugal não foi. Será que é possível sair da área executiva e seguir representando o país no cenário internacional? São questões a se discutir. Temos de debater mais essa questão para chegar a um tempo ótimo e harmonizar esses "dois chapéus" do dirigente. Mas acho que 21 anos é muito tempo.