Quatro integrantes da seleção masculina de polo aquático passaram pela área de entrevistas do Estádio Aquático Olímpico após a derrota para a Hungria, na noite de domingo. Só dois falaram português sem sotaque. Com cinco atletas naturalizados ou repatriados entre os 13 jogadores que compõem a equipe, o Brasil encorpou-se e se transformou em um candidato a medalhas nos Jogos. Nesta terça-feira, às 15h10min, a Torre de Babel pintada de verde e amarelo entra na piscina para buscar uma vaga nas semifinais.
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O adversário é um velho conhecido de mais um estrangeiro com uniforme do Brasil. O croata Ratko Rudic, tetracampeão olímpico, é o técnico da seleção. Enfrentará sua terra natal, uma das potências da modalidade.
Qualquer questionamento sobre o envolvimento dos naturalizados com a seleção se dissipa ao vê-los na água. A torcida animada que tem empurrado a equipe na campanha parece ter contagiado os "estrangeiros".
– Eu queria agradecer muito à torcida. Está sendo sensacional, nota 10 – diz Adrián Baches, nascido e criado na Espanha, mas de pai brasileiro.
Tanto nos quatro primeiros jogos, disputados no Parque Maria Lenk, quanto no último, diante da Hungria, no Estádio Aquático Olímpico, os espectadores participaram intensamente do jogo. Até gritos inusitados de "uh, defesa!" se ouviam quando o adversário atacava, ao estilo dos torcedores americanos no basquete.
A força das arquibancadas ajudou na arrancada perfeita da campanha, com vitórias sobre Austrália, Japão e, principalmente, a Sérvia, atual tricampeã mundial. Nos dois últimos jogos, uma queda de rendimento fez a seleção perder a liderança de seu grupo e sair derrotada contra Grécia e Hungria.
Questionada e polêmica, a estratégia de atrair atletas de outros países surtiu efeito. A contratação de Rudic, uma lenda do esporte e conhecido pela linha dura com que comanda seus atletas, também foi essencial. Outro trunfo foi repatriar Felipe Perrone, brasileiro que defendia a Espanha e figura entre os melhores jogadores do mundo. Nos últimos dois anos, o Brasil fez boas campanhas em competições internacionais. O auge foi o bronze da Liga Mundial do ano passado, desempenho que mostrou que o pódio olímpico não era um sonho impossível.
Ainda assim, o objetivo traçado – e já cumprido – para a Olimpíada era buscar uma vaga nas quartas de final. O bom início da campanha assegurou a meta, com o bônus do histórico triunfo sobre a maior potência atual do polo aquático. Mas ninguém está acomodado. Agora, o Brasil quer mais.
– Não acho que a gente tenha vantagem por eu ser croata e conhecê-los. Todos se conhecem. Já nos enfrentamos algumas vezes. Agora, é um jogo eliminatório, e há sempre 50% de chance de ganhar para cada lado – analisa Rudic.
Para ultrapassar o difícil adversário, a seleção terá de melhorar o desempenho nos momentos em que fica com um jogador a mais – no polo, é comum um jogador de defesa ter de sair durante um ataque do adversário por conta de uma falta cometida. Quem dá a receita, no velho e bom sotaque paulista, é Gustavo Guimarães, um dos "brasileiros" do grupo:
– Nós realmente pecamos nesse quesito contra a Hungria. É algo que temos de trabalhar para melhorar. Esses momentos com um a mais geralmente decidem um jogo.
Com a ajuda do fator local, um grupo que tem Silva, mas também Vrlic, que tem Guimarães, mas também Soro, tentará fazer história nesta terça à tarde. Que carregue consigo a a mensagem olímpica de congregação dos povos para dar mais um passo rumo à medalha.