Em 2003, quando cheguei à República Dominicana para os Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo, as únicas redes que existiam eram as de renda.
Mostrar o alojamento dos futuros campeões, um lugar ao qual jornalistas não têm acesso, era um grande furo. Cheguei caminhando e assobiando, não vi policial algum nos arredores e – zupt! – entrei.
Vi os quartos, o refeitório, as áreas de convivência que se tornam baladas até determinado horário. Muitos romances olímpicos começam neste espaços. Escrevi a matéria para ZH com aquele orgulho de largar numa cobertura botando para quebrar. Uma notícia em primeira mão logo no primeiro dia!
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Mas isso foi há 13 anos. Agora, em 2016, os atletas viraram todos repórteres. Eles postam tudo o tempo todo.
Não há fio desencapado, rachadura no teto, sujeira no piso do quarto, buraco ou infiltração na parede, privada entupida, saco plástico enjambrado com fita adesiva no encanamento para evitar o vazamento da pia, não há nada que escape de virar denúncia documentada nas redes sociais.
E, com o comitê organizador alcançando a proeza de não entregar nem a Vila Olímpica pronta sete anos depois de o Rio ser anunciado como cidade-sede, há farto material para a maior equipe de reportagem já reunida numa Olimpíada.
Tenho de pensar num plano alternativo de reportagem até a semana que vem, quando embarco para a cobertura olímpica da RBS. Do contrário, serei patrolado por estes novos geradores de notícia.
Dureza.