Imagine você estar competindo praticamente na cidade onde você nasceu. Com arquibancadas lotadas, ter seu nome gritado por centenas de pessoas. Para melhorar, ter uma das suas inspirações ao seu lado.
Foi isso que a skatista Maria Lúcia, 15 anos, natural de Canoas, vivenciou no último final de semana quando ficou na terceira posição no skate street feminino na etapa de Porto Alegre do STU Pro Tour.
Show em solo gaúcho
A gaúcha só ficou atrás de duas atletas olímpicas, a fora de série Rayssa Leal (duas vezes medalhista nos Jogos) e a espanhola Daniela Terol.
Para quem até anos atrás era uma promessa, a gaúcha é uma das realidades do skate brasileiro. E assim como Rayssa, almeja ser campeã mundial e olímpica.
— Eu quero focar cada vez mais nos meus treinos. Meu maior sonho é poder participar e ganhar uma medalha olímpica. Desde quando eu era pequena sempre quis viver esse momento — revelou a adolescente de 15 anos a Zero Hora.
A participação da gaúcha na etapa da capital do campeonato de skate ganhou contornos ainda mais especiais. Maria Lúcia homenageou os avós em suas voltas no STU. Ao som de Do Fundo da Grota, de Baitaca, encantou todos que passaram pela pista da Orla do Guaíba no último final de semana.
— Essa música não é só da homenagem aos meus avós, mas também porque escuto essa desde quando era pequena. É uma música bem legal e é bem gauchesca. Foi para dar um up no campeonato, para eu dar mais um show.
Família e o sonho quase adiado
O lado familiar é muito forte para a jovem. Aos 15 anos, começou a andar de skate por causa do pai, atualmente seu treinador. Foi em 2021, vendo Rayssa Leal na TV, que Maria Lúcia teve a certeza de que queria fazer aquilo para a vida.
Os anos se passaram, os campeonatos também, até que no ano passado um baque afetou a família Rocha. A casa onde moram em Canoas foi atingida pela enchente no Rio Grande do Sul em 2024.
Os cinco moradores da residência tiveram que deixar o local. Maria e os dois irmãos precisaram ser resgatados pelo pai Nilson dentro de uma caixa d'água.
— Foi bem difícil essa fase, por ficar meses sem andar de skate, sem fazer as coisas que eu gosto, sem preparo físico. Eu fiquei bem fraca, eu tinha chegado até a perder a esperança de que voltaria a andar de skate. Demorou muito e a gente ainda está se reconstruindo aos poucos. Imagina, a casa ainda estava em construção — contou.
A tragédia climática quase adiou o sonho da gaúcha de participar do seu primeiro torneio internacional, o Mundial de skate de Roma. A família precisou fazer uma rifa para reunir o valor necessário para a viagem — dos R$ 24 mil conseguiu pouco mais de R$ 4 mil.
E o futuro?
Maria volta o foco para o Mundial de Skate, que ocorre novamente em Roma, em junho. Ela já está classificada pela seleção brasileira júnior e tentará a vaga pela equipe principal do Brasil. A seletiva será em abril no Rio de Janeiro. Depois, disputará o STU National em Criciúma.